Padre minhoto levou visita pascal ao Alentejo pela primeira vez em 2018. Espera que um dia chegue ao Algarve.
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Há cinco anos que o compasso pascal entrou pela primeira vez nas casas de mais de uma centena de famílias alentejanas, de quatro localidades do município de Mora, por iniciativa do padre Nelson Fernandes. Numa região mais fechada, onde a população não abria a porta de casa facilmente, hoje "o compasso é tão ou mais vivido do que no Norte do país", garante o sacerdote, que gostava que a tradição cristã chegasse a mais regiões do Alentejo e até ao Algarve. "Tenho esse sonho".
"A mesma comunidade que, em 2018, perguntava porque é que iam entrar nas suas casas, abriu-se, pouco a pouco, e hoje as ideias já partem deles", conta. Em Pavia, por exemplo, as famílias que recebem o compasso sugeriram juntarem-se para jantar no final da visita pascal.
"No Norte, normalmente há o copo de água em casa dos mordomos, mas não vão todos. Aqui, a comunidade é mais pequena e é mais fácil juntar toda a gente num jantar. A festa alonga-se pela noite adentro. As nossas celebrações são demoradas, festivas e cantadas", descreve.
Mais do que levar esta tradição ao Alentejo, o padre natural de Braga, no município de Mora desde 2017, aproximou alentejanos e combateu a solidão. "Pessoas que não tinham relação entre elas começaram a conviver mais. Uma senhora, que vive sozinha e estava totalmente desintegrada da comunidade, já não está. Estava esquecida e agora todos sabem quem é", conta o sacerdote, que se orgulha ainda de levar a visita pascal à vila de Malarranha, "onde as pessoas, 80 a 90, vivem muito isoladas em montes".
Por todo o país, a tradição cristã, na qual o padre e os acólitos visitam as casas transportando o crucifixo, acontece hoje, domingo de Páscoa. Mora, Pavia, Cabeção e Malarranha, no Alentejo, só terão visitas nos próximos cinco domingos. "Não fazemos visita no domingo de Páscoa para celebrarmos as eucaristias com toda a solenidade em todas as paróquias. Além disso, a Páscoa é 50 dias, faço visitas nos outros domingos pois ainda estamos em tempo pascal", justifica.
Nelson Fernandes diz que "todos os anos, o número de casas visitadas tem aumentado, exceto numa paróquia, em Cabeção, onde tem falecido de covid muita gente, quase 50 habitantes". Relata ainda que "muitas pessoas, que não tinham esse hábito, começaram a abençoar as casas".
Tradição
Este ano, os Paços do Concelho e o quartel de Mora, e as sedes das juntas de freguesia do município, mas também de Pavia, Cabeção e Malarranha, receberão, pela primeira vez, a visita pascal. As vilas alentejanas do município de Mora eram as únicas abaixo do Tejo a celebrarem a tradição desde 2018. Sousel, Évora, onde também não se realizava, vai seguir o exemplo do padre minhoto este ano. Mora recebe o compasso dois dias, dia 16 de abril e 7 de maio, porque tem mais população do que outras vilas. Malrranha terá visita dia 14 de maio, Cabeção dia 21 de maio e Pavia dia 30.