Pacientes do Hospital de Braga participam em orquestra comunitária cujos resultados sugerem benefícios.
Corpo do artigo
Vinte e duas pessoas a quem foi diagnosticada doença de Parkinson, quase todas seguidas no Hospital de Braga, juntaram-se para dar corpo a uma orquestra comunitária inovadora. Dinamizado pela médica neurologista Margarida Rodrigues e pelo músico Pedro Santos, o projeto Parkinsound permitiu unir os pacientes em torno de um objetivo comum e de experimentar uma terapia para ajudar a retardar os avanços da doença.
"Um dos grandes objetivos foi perceber se o projeto teria algum impacto na qualidade de vida e nos sintomas dos doentes de Parkinson. Estamos a falar de um estudo-piloto, com uma amostra reduzida, mas os resultados sugerem que há realmente benefícios clínicos em quem participou na orquestra", explicou ao JN Margarida Rodrigues.
Além do grupo de 22 "músicos", foi criado um "grupo de controlo", composto por 21 outros pacientes, tendo sido aplicadas diferentes escalas de avaliação clínica da doença de Parkinson antes e depois da intervenção. "No final do trabalho, que incluiu 15 ensaios e um concerto, verificou-se que todos os elementos da orquestra estavam pelo menos ligeiramente melhor, enquanto no grupo de controlo havia quem estivesse pior ou mesmo muito pior", refere a médica do Hospital de Braga.
Segundo Margarida Rodrigues, a intervenção integrou processos motores, como tocar instrumentos, e cognitivos, nomeadamente "seguir pistas auditivas, visuais, ritmos e colaborar na criação do espetáculo".
A intenção é alargar o projeto a mais pacientes e pô-lo em prática durante mais tempo, para que os benefícios sejam "mais robustos". "Isso permitir-nos-ia, no futuro, prescrever orquestras terapêuticas para os doentes com Parkinson", sublinha a neurologista.
"Voltei a sentir-me útil"
Para Domingos Alves, a participação na orquestra foi uma oportunidade de voltar aos palcos, depois de uma carreira de vários anos como músico profissional e professor da área, algo que abandonou depois de ter sido diagnosticado com Parkinson, em 2015. "A partir dessa altura, comecei a ficar algo frustrado pelo facto de já não conseguir fazer o que fazia antes. Ter participado neste projeto permitiu que voltasse a sentir-me útil", conta.
O músico, de 58 anos, encontra "vários benefícios" na orquestra, desde logo a "coordenação motora que exige", mas também o próprio "sentimento de inclusão" que está subjacente. "Termos a capacidade de nos expormos publicamente, apesar das limitações, para mim, já é um enorme benefício", frisa Domingos.
A ideia é acompanhada por Fernanda Gomes, de 56 anos, a quem foi diagnosticado Parkinson há cinco. Sem qualquer formação nem experiência musical, aceitou o repto de fazer parte da orquestra "a princípio com algum receio mas depois com todo o entusiasmo". "A música funcionou como terapia e como elemento de junção de um grupo em que todos nos sentíamos iguais", assegura.
Pormenores
Premiado
O Parkinsound foi distinguido com o prémio de melhor trabalho de investigação clínica no Congresso Nacional de Doenças do Movimento, tendo também já sido apresentado noutros congressos.
Músicas originais
Os participantes da orquestra integraram diferentes categorias musicais: percussão, vozes, eletrónica, teclas e sopros. Foram também responsáveis pela escrita das letras das várias músicas originais.
Dos 26 aos 79 anos
Os pacientes que integraram a orquestra têm entre 26 e 79 anos. Quase todos sem experiência musical.