Cerca de 10% da população do concelho de Famalicão - 12 700 pessoas - não têm médico de família. A situação é particularmente problemática em Nine, localidade onde apenas existe um clínico a tempo parcial, o que já motivou protestos dos moradores.
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O médico colocado na extensão de saúde está doente há longos meses, pelo que a substituição é feita por um profissional que ali acorre apenas duas vezes por semana. "Há dias em que as pessoas vão para ali às cinco da manhã. Costuma ver-se gente muito cedo, para conseguir uma consulta", referiu a proprietária de um café próximo da extensão de saúde.
Maria de Fátima Vieira precisa de recorrer ao médico constantemente por causa da mãe. "Tinha uma consulta marcada, mas já teve de ser adiada", contou, à saída da unidade. "A população é grande. Bem era preciso que viessem mais médicos", acrescentou.
Casimiro Silva sublinha que chegou a estar dois meses à espera de consulta. "Também já tive de recorrer ao centro de saúde de Famalicão porque aqui não havia médico", afirmou o utente. "É um transtorno, porque estamos a falar de uma deslocação de nove quilómetros", disse.
"O serviço que temos não satisfaz as necessidades da população", referiu o presidente da Junta de Freguesia de Nine, Domingos Ribeiro que tem acompanhado a situação. O autarca reclama a necessidade da extensão de saúde ter um médico permanente a tempo inteiro. "As consultas demoram cerca de dois meses e há dificuldades por causa da medicação", notou.
O director do Agrupamento de Centros de Saúde de Famalicão, Paulo Oliveira, garantiu o reforço da extensão de saúde de Nine. Vai haver mais um dia da semana com médico. "Só é possível ter um clínico permanente quando houver mais médicos", avançou o responsável, aludindo ao problema de carência geral no país. Paulo Oliveira espera que o concelho receba novos clínicos já em Março.
"Vai abrir um concurso e penso que lá para Março já estará concluído", apontou, salvaguardando que não sabe o número de médicos que vai calhar ao concelho.
"Demora muito tempo para termos uma consulta. Dantes era melhor, mas o médico saiu e agora é assim", lamentou Zulmira Costa, de Lousado, onde o atendimento também tem lacunas. A extensão de saúde, com mais de mil utentes sem médico de família, possui um clínico permanente que reforça o atendimento duas tardes por semana.
O presidente da Junta, Manuel Martins, considera que as necessidades não estão satisfeitas e quer que sejam colocados mais médicos. Antes da saída de um dos clínicos para uma Unidade de Saúde Familiar a localidade tinha dois médicos ao serviço. Embora reconheça que o atendimento existente em Lousado "não é suficiente", o director do Agrupamento de Centros de Saúde sublinha que existem "casos mais dramáticos" no concelho.
Tendência para piorar
Já a freguesia de Requião possui cerca de três mil utentes sem médico de família. Em Arnoso Santa Maria, segundo o presidente da Junta, o problema está "mais ou menos resolvido", uma vez que ao médico permanente se junta um clínico três vezes por semana.
Paulo Oliveira admite que o número de utentes sem médicovai aumentar, porque em Janeiro um profissional vai reformar-se. "A falta de médicos não acontece só no concelho, acontece no país", atirou, reiterando que não existem médicos "para acudir a tudo".