Na véspera do início da campanha eleitoral para as Legislativas de 1976 e ainda com o Verão Quente de 1975 bem presente na memória, a "bomba num carro de um candidato da UDP" mereceu, a 3 de abril de 1976, chamada de capa no "Jornal de Notícias". Maximino Barbosa de Sousa, de 32 anos, padre, "gestor do Liceu de Vila Real" e candidato por aquele distrito, ficara ferido com gravidade, enquanto a "jovem que o acompanhava", Maria de Lurdes Pereira, de 19 e "estudante", tivera morte imediata.
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"Uma senhora morreu e um candidato da UDP ficou ferido em consequencia de mais um atentado terrorista que ocorreu ontem poucos minutos depois da meia noite, na freguesia da Cumeeira no concelho de Santa Marta de Penaguiao", começava a notícia publicada na página 10. Os detalhes do crime eram já conhecidos.
"Acompanhado de uma jovem simpatizante da UDP de nome Maria de Lurdes Pereira o padre Maximino iniciou a marcha ao volante do seu automovel. Poucos minutos depois o rebentamento e a morte para a companheira de viagem do sacerdote. Este por sua vez foi transportado ao hospital de Vila Real em estado muito grave", acrescentava-se. Um "rapaz a quem dera boleia", não atingido pela explosão, reparara "num volume estranho" deixado "debaixo de um assento", mas "o rev Maximino pouco se importou com o caso tanto mais que era normal transportar embrulhos no seu veiculo".
O óbito do padre foi confirmado a 3 de abril de 1976 e noticiado no dia seguinte, com o carro em destroços a ilustrar a manchete do JN: "Começou a Campanha Eleitoral - CR [Conselho da Revolução] proibe na rádio e na TV propaganda agressiva ou injuriosa". O artigo trazia informação adicional: estava em curso a "sua transferência para o Porto numa tentativa de lhe salvar a vida".
"O padre Maximino participou em Lisboa no 2.º Congresso da UDP realizado há três semanas tendo nessa altura usado da palavra para afirmar que a Igreja o suspendera das funções eclesiásticas porque ele era candidato por um partido revolucionário, mas não suspendia os padres que fazem propaganda por partidos reaccionarios incluindo do púlpito", recordava o JN.
O caso gerara, na véspera, uma "manifestação de mágoa e repúdio na Baixa do Porto", promovida pela UDP, e que visou "tambem chamar a atençao para a crescente onda de terrorismo" que ia "avassalando sobretudo o Norte do país". "Por cada camarada morto mil se levantam" foi "uma das varias palavras de ordem" gritadas por "algumas centenas de pessoas".