Agitação marítima destruiu uma casa e deixou outras em risco. Uma família teve de ser realojada. Solução passa pela demolição da maioria delas.
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Há muito que o desfecho se adivinhava, faltava saber apenas a hora e o dia. Foi anteontem, ao início da tarde. A forte agitação marítima fez ruir uma casa desabitada, no lugar das Pedrinhas, na Apúlia, Esposende. A habitação estava já parcialmente "descalça", porque o mar levou, ao longo dos anos, parte da duna onde tinha sido construída. Uma outra habitação ficou em risco e uma família de seis pessoas foi realojada. Aquelas são duas das mais de 200, a maioria ilegal, entre restaurantes, habitações permanentes e de férias e espaços de apoio a pescadores em vias de serem demolidas, de acordo com o Plano de Ordenamento da Orla Costeira (POOC).
"Estavam em casa a minha mãe, a minha mulher e a minha filha de quase três anos. Foi um estrondo enorme. Fugiram de casa, com medo de que a nossa fosse a seguir", descreveu Daniel Monteiro, um dos seis moradores realojados.
Como a habitação que ruiu estava mais perto do mar e, por isso, mais exposta, Daniel Monteiro conta que "nunca havia sentido verdadeiro medo". Até agora. "Sempre vivemos perto do mar, estamos acostumados aos seus barulhos e revoltas, mas agora é diferente. A próxima casa é a nossa".
A família foi realojada na "ilha", um bairro social, pertencente à Câmara, em Apúlia. Santiago Monteiro, dono da habituação em risco, diz que a comprou há mais de 30 anos, embora não tenha documentos: "Mas as pessoas cá sabem que isto é meu há décadas".
Fazer as malas e partir
Conceição Rocha é uma das poucas moradoras do lugar das Pedrinhas. Reside lá há quase 50 anos. No entanto, se tiver de fazer as malas e deixar a casa que construiu "aos poucos", não se oporá. "Só não quero ir para um apartamento. Sempre vivi numa casa térrea e ir para uma gaiola não quero. Além disso, para o meu marido já não é fácil subir degraus", explicou. Clemente Palmeira, pescador com mais de 50 anos de experiência e responsável pela colocação de redes e estacas no local, para tentar conter as areias, apresenta uma solução: "Devia construir-se uma duna a todo o comprimento e destruir os esporões".
Ao JN, o presidente da Autarquia, Benjamim Pereira, explica que, "neste momento, está em cima da mesa o POOC, que prevê demolições e requalificações. "Entendemos que as demolições não devam ser integrais, de tal modo que estamos a desenvolver um projeto, financiado pelo Fundo Ambiental, no sentido de articular com todas as entidades e quem cá está, desde pescadores, restaurantes, habitantes, Junta de Freguesia e Associação dos Baldios, para reorganizar e reabilitar toda esta zona e entregá-la à natureza", descreveu o autarca. O projeto visa relocalizar habitações, restaurantes e apoios de pesca.
Plano costeiro Caminha-Espinho envolve 9 concelhos
O Plano de Ordenamento da Orla Costeira Caminha-Espinho é um instrumento de gestão territorial, que abrange 122 km da orla costeira de nove concelhos e de 36 freguesias. Prevê a retirada progressiva de edifícios em risco ou ilegais, construídos em cima das dunas nas praias da Amorosa, Pedra Alta (Viana), Pedrinhas, Cedovém, Suave Mar, Ofir Sul (Esposende), A-ver-o-Mar (Póvoa) Congreira, Mindelo, Pocinho (Vila do Conde), Marreco (Matosinhos), Madalena, Valadares (Gaia) e Paramos (Espinho). Para Esposende estão previstos 10 milhões para intervenções.