Numa concentração à porta da empresa, em Valadares, Gaia, esta terça-feira de manhã, mais de 100 das 200 trabalhadoras da La Perla, de confeção de vestuário interior, exigem receber os salários que têm atraso desde setembro.
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Segundo Luísa Marques, coordenadora do Sindicato Nacional dos Profissionais da Indústria e Comércio de Vestuário e de Artigos Têxteis ( SINPICVAT) confirmou ao JN que está-se perante "uma empresa que está em Gaia há 34 anos e que deixou de laborar no final de agosto do ano passado, não tendo assegurado os direitos dos seus trabalhadores".
"Trabalhando em exclusivo para Itália, onde chegou a estar localizada a sede da empresa [atestam que agora está siituada em Inglaterra], a desculpa foi que deixaram de receber encomendas", reforçou a sindicalista, apontando que no decorrer do ano passando "houve meses em que as funcionárias só trabalharam três dias".
Atualmente, há trabalhadoras que já estão a receber o fundo de desemprego, mas ainda há um número significativo que continua "sem receber nada", sublinhou a mesma responsável.
Teresa Teixeira, 53 anos, 34 dos quais dedicados à La Perla, fala de "uma profunda tristeza da forma como os responsáveis da empresa trataram as funcionárias, que maioritariamente recebiam o ordenado mínimo", acrescentando: "Estamos a viver uma situação insustentável".
Segundo recordou Amélia Ferreira, 58 anos, 32 dos quais na empresa de Valadares, "há cerca de quatro anos ainda eramos 400", dando conta que administração da La Perla indicou "a guerra e a pandemia como fatores que determinaram a perda de encomendas".
Aliás, a empresa chegou a estar um ano em lay-off.
Na opinião de muitas funcionárias, ouvidas pelo JN, "muita da culpa da situação atual da empresa passa pelo sócio maioritário, de origem alemã, que deixou de investir".
Amélia e Teresa lembram que "houve tempos" em que trabalhavam nove horas diárias e ainda tinham "de levar para casa trabalhos para desmanchar para conseguir responder a todas as encomendas".
Envergando cartazes onde se podia ler "Trabalho e pão, desemprego não!" ou "La Perla escuta trabalhadoras estão em luta", ao som de "Grândola Vira Morena", houve trabalhadoras, como Fátima Santos, de 60 anos, que contaram que ainda estão "sem receber nada". "Fomos para casa no final de agosto com a esperança de reatar a empresa em fevereiro deste ano e, com essa esperança, fiquei até agora à espera".
Também Sandra Moreira, 50 anos, "21 de casa", desabafa que "se não fosse a ajuda da família não tinha neste momento como pagar o empréstimo da casa ao banco".
"Pedimos respeito pelas trabalhadoras, e o sindicato tudo fará para que sejam ressarcidos os seus direitos", concluiu Luísa Marques.
O JN tentou, sem sucesso, contactar a administração da empresa.