Adolfo Rocha, 69 anos, esteve desaparecido durante 48 horas, numa freguesia de Guimarães. Voltou a casa, depois de ser encontrado por um grupo de "motards". A ânsia e o desespero que a família viveu são relatados pela esposa, Adozinda Macedo, que hoje respira de alívio.
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Adolfo Oliveira da Rocha podia já não estar vivo se não fosse a mobilização rápida das autoridades da família, de amigos, conhecidos e de todos os que se interessaram pelo seu desaparecimento. Com 69 anos e passando pela fase inicial da doença de Alzheimer, Adolfo desapareceu a 6 de novembro e esteve mais de 48 horas fora de casa, perdido. Motards que tinham visto os avisos do desaparecimento, encontraram--no, são e salvo. Sobreviveu a comer castanhas.
Adosinda Macedo, a mulher, ainda hoje tem dificuldade em dormir de noite. As dramáticas 48 horas que passou à procura do marido "nunca vão ser esquecidas". Tudo começou quando Adolfo decidiu sair de casa, às 11 da manhã, sem avisar ninguém. A doença roubou-lhe a memória do caminho de volta a casa.
A mulher esperou-o para almoçar, em vão. Ao jantar a mesma coisa. E foi aí que pôs a família toda em alerta. Avisadas as autoridades, naquela noite, ainda não tinham passado 24 horas quando a GNR encetou uma operação que colocou um batalhão nas ruas de Gondomar, um tranquila aldeia de Guimarães.
Foram quase 30 bombeiros, muitos militares do posto de São Torcato e do Grupo de Intervenção de Proteção e Socorro, bem como dezenas de populares, perfazendo cerca de uma centena de pessoas à procura de Adolfo. "Foram todos impecáveis, só tenho a agradecer a ajuda de toda a gente", elogia Adosinda. As patrulhas correram montes e estradas dos concelhos de Guimarães e Póvoa de Lanhoso durante duas manhãs, uma tarde e uma noite. Sem parar, pois sabiam que Afonso deveria estar perto, por se deslocar a pé.
O sexagenário acabaria por ser encontrado a cinco quilómetros de casa, por um grupo de motards, dois dias depois do desaparecimento. "Ele estava sentado num muro e tossiu. Eles ouviram e foram ver o que era, então reconheceram-no e chamaram a GNR", recorda a mulher. Adosinda, que deixara de comer e dormir, ficou "em estado de choque, de tanta alegria", conta a própria.
Enquanto esteve desaparecido Adolfo comeu apenas um punhado de castanhas que encontrou pelo caminho. Hoje, ainda a recuperar das mazelas de cinco quilómetros de caminhada sem rumo, não se lembra do que sucedeu. A doença apaga-lhe as memórias recentes. É capaz de dizer de cor a data de 9 de setembro de 1963, dia em que emigrou para França, mas incapaz de saber o que acabou de almoçar. "Eu estou sempre por casa, nunca saí", desabafa.