O cheiro característico do pão acabadinho de cozer e o aroma adocicado dos bolos expostos na vitrina que nos invadem os sentidos mal entramos na Confeitaria Doce Tiana, em Campo, concelho de Valongo, despertam prontamente um dos sete pecados: a gula.
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Como resistir a um croissant dourado, a um bolo-rei ou um pão-de-ló tirados instantes antes do forno. Ou a um pão quentinho e crocante, como que a convidar a manteiga a passear-se ao de leve por cima. Ou a um bolo de profiteroles que à primeira garfada provoca uma explosão de sabores na boca. Toda esta magia sai diariamente da cozinha da Doce Tiana e só é possível graças ao trabalho e dedicação do gerente Tiago, da mãe e fundadora da empresa Mimi, dos padeiros Paulo e Leonel e das funcionárias de balcão Paula, Sandra e Joana.
"Somos oito funcionários a trabalhar diariamente, sempre a deixar de lado a nossa vida pessoal e família, para durante 365 dias do ano nos dedicarmos a satisfazer os nossos clientes", é desta forma que Tiago Cunha, também ele padeiro e pasteleiro, define a confeitaria, pão quente e pastelaria que dirige.
A história da empresa iniciou-se há década e meia, pelas mãos dos pais deste padeiro, mas o trabalho na indústria da panificação já vem de gerações mais antigas. "O meu falecido avô veio de Estarreja para Campo e começou o negócio com a Padaria Máximo Cunha há muitos anos, depois a própria família foi-se dividindo e criando os próprios negócios e há 15 anos os meus pais abriram a confeitaria. Seguiram para uma área diferente daquela em que trabalhavam, sempre com o objetivo de tentar inovar para chamar os clientes", explica Tiago Cunha, contando que a designação 'Doce Tiana' surgiu da junção do seu nome com o da irmã Diana (não está ligada à confeitaria), sendo que a imagem de marca é um retrato de ambos, pintado quando ainda eram crianças.
Numa terra que tem o pão, a regueifa e o biscoito como marcas de referência, a concorrência é feroz, por isso, as empresas são obrigadas a encontrar fórmulas para se distinguirem das restantes. "Aqui os clientes encontram uma variedade enorme de produtos, desde a pastelaria à padaria, ao 'cake design', aos produtos da época, como o bolo-rei, pão-de-ló e rabanadas, que fazemos todo o ano, e o bolo rei "Noite e Dia", que é muito procurado. Na padaria fazemos de tudo um pouco do que os nossos clientes possam ir pedindo ou exigindo, como o pão de cereais, de mistura, de água, de hambúrguer e cachorro ou a broa", salienta o gerente, anotando que o segredo está na aposta "em matérias-primas de qualidade e na dedicação das pessoas em fazer o produto o melhor possível sempre em prol do cliente".
Embora Tiago Cunha diga que a receita seja simples, a verdade é que a regueifa desta padaria já lhe valeu vários galardões. "Desde há quatro anos, a nossa regueifa tem vindo sempre a ser premiada, tem ganho o primeiro, segundo ou terceiro prémios na Feira da Regueifa e do Biscoito de Valongo", refere, com orgulho, o padeiro, anotando que o concurso obedece a uma série de regras.
"Tem vários parâmetros rigorosos e criteriosos que temos de cumprir, como o peso, o formato e a decoração - não pode ter nada alusivo à própria empresa - para a avaliação do júri ser a mais neutra possível. Na degustação é pontuada a textura, a cor, o sabor e o aspeto", explica Tiago Cunha, reconhecendo os prémios são um chamariz de novos clientes: "Quando os premiados são divulgados há sempre um maior volume de negócio, depois é lógico que vai diluindo, pois as pessoas não fazem grandes distâncias para vir buscar o pão".
"Mas a nossa regueifa é muito apreciada e no Natal e na Páscoa é enviada para outras zonas do país ou até mesmo para o estrangeiro", complementa o gerente da Doce Tiana, também um membro da "Confraria do Pão, da Regueifa e do Biscoito de Valongo".
Sobre a criação desta "irmandade", cujo primeiro capítulo foi escrito a 4 de junho de 2016, o padeiro defende que "veio ajudar os homens de trabalho dos biscoitos e da padaria a se unirem um pouco mais e a lutarem todos para o mesmo lado". E acrescenta: "Os resultados são visíveis, porque já desde a Feira da Regueifa e depois com a confraria, o concelho tem sido falado pelos bons motivos, isto é, por ser o maior do país na produção dos biscoitos e regueifas".
Para dar ainda maior visibilidade ao trabalho desenvolvido na área da panificação só falta mesmo a criação de um espaço onde a história desta indústria seja contada. "O Museu já está pensado, agora falta realizarem-se todas as medidas necessárias para fazer a obra, mas é próximo passo para unir ainda mais o pão, a regueifa e o biscoito de Valongo", finaliza Tiago Cunha.