Projeto criado há 10 meses em Castelo Branco combate o isolamento e promove o envelhecimento ativo. E de vez em quando são improvisados bailes
Corpo do artigo
"A minha companhia são os gatos e os livros. Quando vem a carrinha é uma animação, por vezes é quando vejo as pessoas da aldeia", as palavras são de Maria Amélia, habitante em São Vicente da Beira, uma freguesia de Castelo Branco. Ainda o toque musical da chegada da carrinha "Na estrada com histórias" se começava a ouvir, já ela estava no largo do Pelourinho, o local da paragem.
De vez em quando, este projeto ambulante "Contrato Local de Desenvolvimento Social - 4º Geração de Castelo Branco" que leva livros, atividades às freguesias deste concelho, transporta também música.
Um dos técnicos, Francisco Machaz, puxa do seu acordeão. Uma dezena de leitores seniores já ali estão em fila para a troca de livros. Aos primeiros acordes, o pé começa a bater no chão, a anca começa a mexer e pouco depois já se canta e dança.
"A música liberta-nos, tal como os livros", diz Maria de Fátima Jerónimo, das mais animadas no largo. Com 72 anos é a primeira a "libertar-se" e a puxar os restantes para um pequeno baile. Daí até aos cantares ao desafio é um passo. "Meu bem/ quem me dera nos altos montes/andar ao sol todo o dia/ai andar ao sol todo o dia", cantam três mulheres com versos divididos entre si, um dos cânticos tradicionais de Castelo Branco.
Há 10 meses no terreno, o projeto "Na estrada com histórias" está sob a dependência da Amato Lusitano, Associação de Desenvolvimento, que tem uma biblioteca móvel, e já conta com mais de 900 livros requisitados em 265 visitas a localidades rurais neste concelho. Tem como objetivo contribuir para a inclusão social, promover a literacia, combater o isolamento e dinamizar o envelhecimento ativo. "Temos realizado encontros com as crianças do primeiro ciclo", explica a técnica e psicóloga, Jessica Breia.
Antes de São Vicente da Beira, a carrinha já tinha passado por outra aldeia desta freguesia, Partida, onde a carrinha ganhou mais um inscrito. "Vamos conquistando as pessoas pouco a pouco, é preciso compreender o tempo delas", explica Filipa Balroa, coordenadora do projeto.
Não raras as vezes, os livros são trocados entre os habitantes da aldeia. Manuel Carvalho seguia para a horta. É desafiado a inscrever-se na bibliomóvel. "Até gostava de ler, sobretudo livros de cowboys". Enquanto o confessa, encosta a enxada e murmura: "A minha neta, que tem 14 anos, é quem gosta de ler". Filipa Balroa, insiste. Manuel levanta a boina, coça a cabeça. Puxa da carteira para dar os dados pessoais que são registados no livro de requisições e leva para casa "A Lua da Joana", de Maria Teresa Maia Gonzalez. "A minha pequena vai ficar toda contente", remata, enquanto volta a pegar na enxada para retomar o caminho até ao campo. No olhar leva alegria.