O projeto de construir em Portugal uma cadeira de rodas melhor que aquelas que são importadas nasceu da vontade de Miguel Barbosa, proprietário de uma empresa de Braga que comercializa produtos de apoio para a mobilidade e reabilitação, próteses, ortóteses e sistemas de posicionamento, a Multiorthos. A ideia conquistou um financiamento de 250 mil euros no âmbito do Portugal 2020, em agosto de 2020.
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O empresário procurou a colaboração da Fibrenamics, associação sediada na Universidade do Minho, em Guimarães, que se dedica à investigação em materiais fibrosos e compósitos, vocacionada para a transferência de tecnologia para as empresas e o projeto arrancou. O resultado é uma cadeira mais leve e mais resistente.
"As cadeiras da concorrência são feitas a partir de materiais metálicos e podem atingir um peso total de 25 quilos", esclarece Miguel Barbosa. A cadeira que a Multiorthos e a Fibrenamics desenvolveram tem um peso a rondar os dez quilos, graças ao uso de materiais compósitos, "ao mesmo tempo que melhora a resistência", conforme sublinha João Bessa, R&D manager (responsável de investigação e desenvolvimento) da Fibrenamics.
"A questão do peso é determinante para o familiar que tem que empurrar a cadeira permanentemente, que tem de a dobrar e de pegar nela para a meter na mala de um carro", aponta Miguel Barbosa.
Os equipamentos de gama média e alta são fabricados nestes mercados que, por coincidência, são os mais caros
Farto de importar equipamentos de mercados como a Alemanha, Estados Unidos da América, Canadá ou a Suíça, Miguel Barbosa começou a pensar em algo de qualidade. "Os equipamentos de gama média e alta são fabricados nestes mercados que, por coincidência, são os mais caros. Isso quer dizer que os produtos chegam aqui a um preço muito elevado. Na Península Ibérica só se fazem equipamentos de gama baixa", diz.
Quando se lançou na aventura de projetar uma cadeira de rodas, especificamente para responder às necessidades de crianças com paralisia cerebral, o objetivo era fazer melhor do que aquilo que já existe no mercado. "Juntamos a experiência acumulada do Miguel, ao longo de anos de contacto com estes equipamentos, com o nosso conhecimento ao nível de materiais compósitos e fibrosos. Este projeto assentou muito bem naquilo que são os eixos da nossa investigação", afirma João Bessa.
Além de ter menos peso "a cadeira tem de ser confortável do ponto de vista físico e térmico", indica o investigador. "Para utilizadores que são de longa duração, a questão dos pontos de pressão é muito importante", remata. Para a redução do peso, a Fibrenamics recorreu a polímeros e fibra de carbono na construção de várias peças do chassis.