Um grupo de cerca de uma dúzia de ex-trabalhadores da Petrogal concentraram-se, esta segunda-feira, em protesto à porta da refinaria, em Leça da Palmeira, no dia que fica marcado pelo início do desmantelamento da empresa.
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Enquanto um grupo de ex-funcionários se mantinha concentrado na entrada da refinaria, junto ao farol de Leça da Palmeira, no outro extremo, na Rua Dom Marcos da Cruz, decorriam os trabalhos iniciais de desmantelamento da Petrogal. Um funcionário confirmou ao JN que a operação, por agora, vai concentrar-se "na retirada dos pipelines [oleodutos]".
Paralelos à rede que divide a estrada do recinto da empresa foram, inclusive, colocados vários contentores que servirão de apoio à empreitada.
"Só a morte é que nos faz parar". Foi desta forma que César Martins, do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, explicou a presença dos ex-funcionários à porta da empresa, enquanto gritavam: "A luta continua". "Estamos aqui concentrados para marcar uma posição e mantemo-nos firmes nessa posição: a destruição desta refinaria é um crime", referiu o mesmo responsável.
Para dirigente sindical "é lamentável que dos 137 trabalhadores, só 40 foram admitidos pela empresa e os restantes ou estão a trabalhar com o ordenado mínimo ou estão no desemprego", sublinhando que "não foi nada disso que foi prometido". E acrescentou: "O que temos é só promessas. É uma hipocrisia, um faz de conta".
O mesmo responsável, inclusive, referiu que "dos 40 trabalhadores que foram admitidos, e que estão em várias funções, há alguns que foram para Sines e que, apesar da grande experiência que têm, estão com rendimentos de estagiário, o que não se percebe".
No dia marcado pelo início dos trabalhos de desmantelamento da empresa, César Martins não tem dúvidas que se está perante "um crime". E explicou: "É um crime para o país, para os trabalhadores, mas essencialmente para o país e para os contribuintes que meteram aqui tanto dinheiro e afinal Portugal vai ficar refém, porque vai ter de comprar ao exterior as matérias-primas que aqui se produziam e a nossa indústria vai sofrer com isso".
Já sobre o interesse de um grupo inglês em querer comprar a refirnaria, o sindicalista manifestou que o eventual negócio "é uma incerteza muito grande", estando "a aguardar a veracidade dessa pretensão". "Esperança era o Governo tomar conta da refinaria , isso é que era digno, porque o contribuinte português investiu aqui muito dinheiro ( 5,3 mil milhões de euros entre 2008 e 2012) e ao fim de oito anos a refinaria fechou", destacou o mesmo responsável.
"É um misto grande de emoções"
Ana Basílio, 62 anos, ex-funcionária da Petrogal, "de 1982 a 1997", e ex-proprietária de terrenos onde foi construída a empresa, foi uma das que fez questão de marcar presença esta segunda-feira à porta da refinaria. "Há um misto de grande emoções", começou por dizer ao JN, para logo a seguir confessar: "Há uma frustração e um sentimento de injustiça muito grande da forma como fomos expropriados, alegando na altura o Estado Novo, o interesse público. Pagaram-nos a dez escudos o metro quadrado. Se fosse agora, os meus 30 mil metros quadrados valeriam entre 60 a 90 milhões".
Do mesmo modo, a ex-proprietária não poupa críticas ao processo que levou ao desmantelamento da empresa, preferindo, ainda assim, resumir que "há aqui um conjunto grande de interesses".
Já dos tempos como ex-funcionária da Petrogal, onde desempenhou funções no secretariado, Ana Basílio recordou, emocionada, "a grande empresa em que todos se davam como família".
Também Domingos Branco, 78 anos, que trabalhou 33 na empresa, desabafou "ser uma tristeza muito grande ver um investimento destes ser destruído assim", lamtando que "à conta do fecho da Petrogal também outras micro empresas acabaram por desaparecer".