Instituição que apoia militares que lutaram na guerra do Ultramar está revitalizada e quer cativar mais associados.
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Azuis como o mar que cruzou até chegar a Moçambique, para combater numa guerra que nunca compreendeu, os olhos de Manuel Barbosa humedecem-se no instante em que a emoção se enrola nas palavras, sustidas de repente para conseguir travar as lágrimas ao recordar o momento em que se despediu da mãe para, com a vida ainda nos 22 anos, rumar à antiga colónia portuguesa. Sem saber se regressaria vivo ou morto. Ou sequer se voltaria, fosse como fosse.
Manuel regressou. Sem ferimentos de guerra, mas com cicatrizes invisíveis gravadas na memória com a brutalidade do estrondo seco de morteiros. Faz outra pausa; o azul dos olhos de novo líquido: "Há coisas que não quero recordar; ficaram lá". A reação é comum nos ex-combatentes, por quem se multiplicam deficiências físicas e stress pós-traumático. "Temos muita gente que ouve um estrondo ou uma mota a dar um rater e se atira para o chão", descreve Jocelino Rodrigues, um coronel do Exército nascido meses antes do início da guerra do Ultramar e que em 2021 assumiu a direção do Núcleo do Porto da Liga dos Combatentes, determinado na missão de a dinamizar, ampliando valências e serviços para os antigos militares "terem acesso a mais regalias".