Paralisação de motoristas convocada pelo STRUN surpreendeu muitos passageiros. Sindicato fala em adesão de 85% e 33 autocarros a operar.
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Inclinam-se em frente à paragem e fixam o olhar no cimo da rua na esperança de ver chegar o autocarro que os leve ao trabalho ou de regresso a casa. Surpreendidos ou não pela greve dos motoristas da STCP, a espera foi demasiada para muitos passageiros sem outra alternativa além do transporte público. A paralisação foi convocada pelo Sindicato dos Transportes Rodoviários Urbanos do Norte (STRUN) pela falta de resposta da administração face a uma reivindicação de 8% de aumento salarial.
Saiba mais sobre o impacto da greve e a posição da administração da STCP aqui.
Acompanhado pela mulher na Rua dos Heróis e dos Mártires de Angola, no Porto, Carlos Freitas, 79 anos, admite que "já estava a contar" com atrasos nos autocarros. Mas está há meia hora à espera de um que passe pelo Hospital de Santo António. "Se vir que tal, tenho de ir a pé, embora custe muito à minha mulher", lamenta.
Já Emília Novais, 64 anos, compreende as reivindicações dos motoristas: "Todos temos direito a lutar para uma vida digna. Só é chato quando não sabemos [das greves] e temos de andar assim".
Um dos prejudicados foi Igor Berck, 28 anos. Está há quatro meses em Portugal, a viver em Gaia e a trabalhar numa pizzaria recentemente inaugurada em Gondomar. Usa a linha 800. "Funciona bem", reconhece, mas está há uma hora à espera.
"Não vi o aviso de greve. Já estou a avisar a gerente", conforma-se. De acordo com o STRUN, a adesão foi de 85% e dos cerca de 360 autocarros que deveriam ter saído em serviço, estiveram 33 a operar.
Baixa sem autocarros
"Houve quem fosse trabalhar de táxi", partilha Maria da Glória Teixeira, de 78 anos, noutra paragem em Sá da Bandeira. "Não tenho dinheiro para táxis", contrapõe Laura dos Santos, 85 anos. E faz uma provocação: "O presidente, que tirou os outros autocarros do centro, é que devia andar a pé para ver o que a gente passa", queixa-se a idosa.
"Estamos à espera do 700 ou do autocarro que vai para S. Roque da Lameira para depois, lá, apanharmos o 8025 [da Unir]", explica Maria da Glória.
Em frente à estação de metro da Trindade, numa outra paragem, ouve-se um comentário ao descontentamento de Luís Monterroso: "Na semana passada estavam afixados avisos nos autocarros sobre os serviços mínimos". Rápido se ouve a resposta: "Não estou a ver nada". A imagem da chegada do 304 em direção a Santa Luzia é já uma miragem para o passageiro de 74 anos.
"Até o 600, que passa de dez em dez minutos, não apareceu", indica.
As falhas no serviço poderá repetir-se, avisa o STRUN, caso não haja acordo com a STCP: da meia-noite de dia 16 de setembro até às duas da manhã de dia 18 e, depois, às cinco primeiras horas de trabalho de cada motorista até 17 de novembro.