O objetivo é percorrer a pé, em 19 dias, cerca de 950 quilómetros, entre Caminha e Vila Real de Santo António, sempre com o mar à vista. O desafio foi traçado por André Rocha, 44 anos, gestor de empresas, do Porto, que já está a caminhar rumo ao destino.
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Começou no pinhal do Camarido, junto à foz do rio Minho, Caminha, no feriado do Corpo de Deus, e tem a meta programada para o extremo sul da costa portuguesa, junto à fronteira com Espanha, a 21, véspera do aniversário da mulher e antevéspera da festa de eleição, o S. João do Porto.
"Para mim, é o melhor dia do ano. Porventura terei de festejar sentado. Comer umas sardinhas e beber cerveja, mas sentado. Não faço ideia como é que vou terminar isto. Gostava de estar inteiro", brincou, na véspera da partida.
A conclusão da caminhada a solo representará cumprir um projeto pessoal, impensável até há pouco tempo, e também a eventual criação de uma nova rota de turismo de natureza pelo litoral que permite conhecer o continente. "Em Portugal, não temos verdadeiramente uma rota de longo curso que represente o país como um todo. As que temos são mais circunscritas", defende André, que irá assinalar em GPS o percurso de forma a que outros, eventualmente interessado, dele possam usufruir.
A aventura, que é possível acompanhar dia a dia através da conta de Instagram the_route76, nasceu em abril, durante uma caminhada em Arouca com a mulher. "Comentei que realmente uma coisa que gostava de fazer um dia era fazer a costa toda e a Joana disse: então porque é que não vais?", conta.
O plano é percorrer cerca de 50 quilómetros diários por estradões de terra batida ou passadiços, o mais próximo possível de areais. Fará três travessias de barco: ferry de S. Jacinto, Aveiro, Lisboa e Tróia. E conta fazer algumas etapas do percurso na companhia de amigos, que se queiram juntar. Na mochila com oito quilos de peso, leva três t-shirts, dois calções, boné, polar, um canivete suíço, sandálias, calção de banho, toalha, protetor solar e computador.
André Rocha conta que descobriu, em 2015, as "vantagens emocionais" da caminhada em locais remotos "desligado do stress, das buzinas do dia a dia, dos emails e das pressões familiares". E que criou um movimento que arrastou outras pessoas para caminhar durante alguns dias em zonas como a rota Vicentina, as ilhas das Flores e do Corvo nos Açores, no Gerês ou na Costa da Morte (Galiza). Sempre "tendo por base a necessidade de reconectar com o meio natural".
"A sensação quase química que nós temos a nível cerebral quando andamos a pé durante muito tempo, é que a fadiga do corpo se transforma numa libertação intelectual. E essa é uma sensação que vicia", defende, indicando o livro "Andar: uma filosofia", de Frédéric Gros, como uma espécie de guia de viagem.
