Gil Ramos vai pedalar para vender um livro em cada um dos 38 concelhos por onde vai passar.
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A pequena Cookie Maria não sabe, mas há de ser a estrela de uma aventura feita missão: o seu dono, Gil Ramos, que a adotou em novembro e tem "um estilo "rock and roll" de fazer as coisas", vai percorrer a mítica EN2, de bicicleta, para promover a coleção de livros que escreveu - a "Histórias ao Quadrado" - e cuja venda vai ajudar crianças da Guiné-Bissau.
E leva a gata com ele, para que não fique sozinha na casa onde moram, em Árvore, Vila do Conde.
Com a gatinha preta e branca à frente do guiador, as orelhas negras a espreitar numa transportadora adaptada e fixada num monta-cargas, e um livro na mão, Gil vai pedalar de norte a sul, até ao final do mês. Parte hoje do quilómetro zero, em Chaves, e conta chegar a Faro no último dia do mês.
Na mochila, segue a esperança de "vender 38 livros, um por concelho" onde vai passar. A meiguice da bichana de meio ano que "gosta de andar de bicicleta" há de ajudar. Ao peito, Gil leva a Missão Dulombi, uma iniciativa humanitária que criou com o primo, em 2010, para ajudar os meninos da aldeia homónima situada em Galomaro, na região de Bafatá, onde o pai, Fernando Ramos, estivera mobilizado durante a Guerra do Ultramar, deixando lá construídas várias infraestruturas.
Com as expedições à remota Dulombi suspensas pela pandemia de covid-19, produzir livros foi a forma que o filho do ex-militar - que construiu ali um jardim de infância batizado com o nome do pai - encontrou para "continuar a apoiar os miúdos". E são 150 as crianças que crescem naquele povoado tribal da Guiné. "O importante é que, por cada livro que venda, cinco euros revertem para a educação deles. Serão 10 mil euros que envio para ajudá-los, o que é muito", calcula Gil Ramos, que criou, com o fotógrafo Daniel Lima, a coleção de 10 livros com que também esperam contornar a crise. Cada livro custa 10 euros.
Veio-lhe tudo à ideia quando "estava a produzir conteúdos vídeo para o Festival Correntes d"Escritas, na Póvoa de Varzim": "começaram a passar-me muitos livros pelas mãos, e pensei que era fixe convidar 10 amigos fotógrafos que tenham estado comigo em Dulombi, e desafiá-los a entregarem-me 10 fotografias de lá, para eu escrever uma história".
Estilo rock and roll
Gil "nunca tinha editado um livro", e não sabia o que era preciso. Mas não se atrapalhou. "Existiu sempre em mim um estilo "rock and roll" de fazer as coisas: é para fazer, então vamos fazer! Já editei discos, e isto não podia ser muito diferente. Foi tudo pensado a meio de março e a meio de abril já estava pronto. Desde os sarrabiscos no papel até ter o primeiro volume para mostrar, foram três semanas. Como se faz isto? Arrisca-se tudo". Agora, é tempo de rolar na estrada.