O dia abriu cheio de sol na Quinta das Carvalhas, em São João da Pesqueira. Oito mulheres começam mais uma jornada de poda numa vinha com inclinação superior a 40%. As "catarinas" - assim chamam ao grupo - já andam nisto há quatro meses.
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Esta propriedade da Real Companhia Velha tem apostado nos últimos anos no trabalho feminino para este tipo de tarefas, que tradicionalmente eram realizadas por homens.
Quando o engenheiro agrónomo Álvaro Martinho começou a coordenar os trabalhos nesta propriedade de 120 hectares de vinha, começou a "pôr em causa alguns procedimentos e a admitir a necessidade de os alterar".
Na altura, há cerca de 10 anos, também pesou o facto de haver "pouca disponibilidade de homens no Douro, já que preferiam a construção civil". Mas viu no trabalho feminino "maior delicadeza, mais sensibilidade e rapidez". Mesmo havendo "quem torcesse o nariz", levou avante a sua aposta para fazer um trabalho que, "sem ser um bicho-de-sete-cabeças, é delicado e muito importante".
Martinho deu formação a mulheres que trabalhavam na quinta, fez o acompanhamento e hoje garante que os resultados têm sido "muito bons". De resto, esta prática tem vindo a generalizar-se em toda a Região Demarcada do Douro.
Amélia Alves, de 48 anos, reside em Magueija (Lamego) e diz-se satisfeita com a tarefa que desenvolve: "Há dias em que ando com os braços e as mãos um pouco doridas, mas é um trabalho que se faz bem". Por seu lado, Lurdes Ribeiro, 36 anos, moradora no Mezio (Castro Daire) tinha a ideia que "a poda era um trabalho de homem", mas, afinal, "a mulher também o consegue fazer tão bem quanto ele".
Álvaro Martinho tem mantido o grupo unido e estimulado para que renda mais. "O relacionamento entre nós também é muito bom", garante. "Trabalho é trabalho, mas também nos divertimos. Às vezes fazemos umas festas com baile e tudo", acrescenta. E enquanto não chega a próxima festa, faça chuva ou faça sol, as oito mulheres, curvam-se sobre as videiras, entre as 7.30 horas e às 17 horas, com uma hora de pausa para almoço e meia para o pequeno-almoço.
A poda é um trabalho que tem tempo marcado e convém tê-la pronta antes de a videira voltar a acordar para mais um ciclo de produção.