A servidão administrativa “é para mostrar serviço aos investidores” da mina de lítio
Fernando Queiroga é presidente da Câmara de Boticas desde 2013. Dos 11 anos cumpridos, quase dois terços são marcados pela contestação à instalação de uma mina de lítio a céu aberto em Covas do Barroso. “Vai cortar a montanha a meio”, avisa.
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Transmontano, daquela cepa que Torga define como gente que a bem dá tudo mas a mal nada feito, Fernando Queiroga recebeu o “Jornal de Notícias” no gabinete do moderno edifício da Câmara Municipal de Boticas, concelho com cerca de cinco mil habitantes. “Não somos fundamentalistas. Todos os dias, da minha janela, vejo aquela pedreira na serra”, observa o autarca, ao sublinhar que a oposição às intenções da Savannah em abrir uma mina de lítio na freguesia de Covas do Barroso têm razões fundeadas na frontalidade das gentes de Trás-os-Montes. “Pesou muito a forma como o processo foi conduzido. Nunca foi explicada à população quais eram as verdadeiras intenções, os prejuízos, os benefícios”, argumenta.
Em 2016, a população de Covas do Barroso deparou-se com “a serra esventrada” pelas prospeções, sem aviso prévio. Havia uma exploração de feldespato e quartzo, concessionada para 70 hectares e diz que a Direção Geral de Geologia e Energia (DGEG) “aumentou a área sucessivamente até aos 542 ou 592 hectares sem consultar a câmara, a Junta de Freguesia, a Associação Portuguesa do Ambiente, a Comissão de Coordenação Regional, a Direção Regional de Agricultura, o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas, ninguém”, disse Fernando Queiroga. “Chamei aquelas entidades aqui para me dizerem quem tinha dado autorização para a prospeção e ninguém sabia. Ninguém tinha dado autorização. Quem tinha dado o aval tinha sido exclusivamente a DGEG, portanto, aqui é que o processo ficou inquinado”, lembra em entrevista ao JN.