Utentes da nova rede de transportes Unir concentraram-se na manhã deste sábado em frente à Câmara de Gaia para contestar o serviço, ao qual apontam várias falhas. Os manifestantes entregaram uma petição nos serviços municipais.
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As palavras de ordem de cerca de meia centena de utentes da rede metropolitana de autocarros Unir ecoaram, na manhã deste sábado, na Avenida da República, em frente à Câmara de Gaia, onde decorreu um protesto contra os vários problemas detetados desde o início da operação, no passado dia 1.
“A Unir veio desunir. Isto é uma vergonha”, protesta Ana Santos, que mora em Laborim e conta ter ficado sem alternativas. “Tive transporte durante três décadas, de meia em meia hora, das sete da manhã às sete da noite, e, neste momento, estamos a zero. Nada. Nem uma camioneta”, critica a utente, que reclama o “direito de ter transportes dignos em que possa chegar a horas ao trabalho”.
Atrasos de horas, carreiras por cumprir, horários desajustados e falta de informação estão entre as principais queixas dos utentes da Unir, que na petição pública “Queremos transportes dignos em Gaia, não somos cidadãos de segunda categoria, não a transportes de terceiro mundo que custaram milhões”, que este sábado entregaram nos serviços municipais, elencam várias deficiências do serviço no concelho de Gaia. “Com os atuais horários perdemos mobilidade de transporte e vamos ser obrigados a usar o carro, outros nem carro tem e tem que usar taxis, etc. Onde está a mobilidade moderna para deixar o carro em casa?”, questionam os peticionários, que pretendem fazer chegar o assunto à Assembleia da República.
Ao microfone, Ricardo Cunha, motorista e utente de transportes públicos que encabeçou a manifestação, reiterava a “vergonha” em que se tem traduzido a operação da Unir e sublinhava que “a mobilidade é um pilar do desenvolvimento de uma sociedade”. Morador em Serzedo, Gaia, viu horários de autocarros serem suprimidos na zona. “Aceitei um emprego em que saio às 22.15 horas, tinha transporte às 23 horas e deixei de ter. Agora, tenho de utilizar veículo próprio, e são mais 100 euros por mês”, aponta, referindo que “várias são as linhas que deixaram de ter serviço à noite. É o abandono total das pessoas que trabalham”. Em Gaia - aponta o mentor da manifestação –, a situação agrava-se pela “especificidade de ter, no interior [do concelho], uma faixa etária elevada, com dificuldade de acesso à informação”.
“Há frustração: as pessoas estão desesperadas, porque querem ir para o trabalho e para casa e não conseguem. Os idosos, por exemplo, não sabem o que se passa; não têm informação e estão completamente perdidos”, vinca Daniel Ferreira, também utente e organizador do protesto, alertando que “não há cobertura” de transportes a nível do concelho.
Moradora em Espinho, Rosa Belo descreve “falhas nos horários”, e diz que tem chegado consecutivamente atrasada ao serviço, num hospital, por não haver autocarro. “Deveria sair um de Espinho às 6.45 horas, mas aparecem às 7.40 horas três seguidos”, testemunha, contando ainda que esta sexta-feira esperou “duas horas no Jardim do Morro para ir para Espinho”. Augusta Martins, outra utente, atalhava: "Agora, só há transportes para quem quer passear".
Fátima Pinto, de 76 anos, lamenta o dinheiro investido no passe de autocarro de que agora não se consegue servir. “Moro em Laborim de Cima e vinha até Santo Ovídio no autocarro. Desde o dia 1 de dezembro não tenho apanhado nenhum autocarro, porque foi suprimido. Se quero ir ao médico, tenho de ir a pé. Pelo menos, apanhava esse transporte até Santo Ovídio e, depois, o metro. Agora, nem isso. Gastei 60 euros no passe e não me serve de nada, porque tenho de chamar um táxi”, queixa-se.