Câmara diz que o negócio tem um "peso enorme" na economia do concelho, sustenta várias famílias e cria postos de trabalho. Este ano, números estão abaixo dos de 2022.
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Mealhada é, invariavelmente, sinónimo de leitão à Bairrada. No ano passado, os matadouros do concelho abateram 184 168 leitões. Ou seja, cerca 500 por dia. Uns são consumidos nas mesas dos restaurantes do município, outros vendidos para outros espaços comerciais, já assados ou ainda em carcaça. A Câmara suporta 30 mil euros por ano em encargos com veterinários, para que a qualidade não falhe.
Um protocolo entre a Câmara da Mealhada e a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) permite que, nos matadouros do concelho, o abate de leitões seja diário. O objetivo, esclarece a Autarquia, é que os leitões sejam "abatidos no próprio dia da confeção". A Câmara gasta, por ano, 90 mil euros com a contratação de quatro veterinários, mas recebe um apoio da DGAV, para o efeito, que ronda os 60 mil euros. No final, 30 mil euros são suportados exclusivamente pela Autarquia.
"O leitão tem um peso enorme na nossa economia. Cria bastantes empregos e sustenta parte das famílias. Vem muita gente de fora do concelho aos nossos restaurantes", sublinha António Jorge Franco, presidente da Câmara. No total, a Mealhada conta com cerca de 50 restaurantes e em quase todos se vende leitão. Mas só em 15 é que a iguaria é o prato forte.
"Muitas reuniões de política, de empresários ou de desporto acontecem à mesa, aqui, na Mealhada"
Nove matadouros
Se, há alguns anos, quase todos os restaurantes tinham um pequeno matadouro, hoje, com o aperto das regras sanitárias, já não têm. Agora, existem apenas nove operadores com matadouro, alguns com restaurante associado: Restaurante O Castiço, Churrasqueira Rocha, Meta dos Leitões, Pedro dos Leitões, Restaurante O Típico, Rei dos Leitões, Soares dos Leitões, Evasão Animal e Arménio dos Leitões. E os abates são sempre feitos com o acompanhamento da equipa de veterinários da Câmara.
Este ano, os números ainda estão abaixo de 2022: em janeiro e fevereiro, foram efetuados 21 649 abates. Este ano, nos mesmos meses, 18 859 - o que dá uma média de 314 por dia.
"O processo passa todo por nós"
Quando Carla Carvalheira, de 50 anos, nasceu, os pais já tinham fundado o restaurante O Castiço, na berma da Nacional 1, na Mealhada. Fizeram-no em 1975. Depois, ao casar, Carla e o marido pegaram no negócio. E por lá continuam.
O Castiço é dos poucos que têm matadouro próprio (ao lado do restaurante), o que lhe possibilita acompanhar todo o processo do leitão, desde a escolha do animal, ainda vivo, passando pelo abate e seguindo-o até à mesa.
E, apesar da subida vertiginosa dos preços a que compram a matéria-prima, a empresária diz que não se pode queixar, porque o seu restaurante "tem trabalhado muito bem". Um leitão "ideal", desvenda Carla Carvalheira, deve ter "10 quilos vivo, o que ronda os 4,5 quilos depois de assado".
"É um prato muito fácil e prático de servir. Come-se quente ou frio. Por isso é tão apreciado"
"O leitão parece todo igual, mas não é. Tem que ser pequenino. A carne tem que ter qualidade e, depois, há o molho e a assadura. Nós compramos o leitão vivo e o processo passa todo por nós. Abatemos, assamos e servimos à mesa", explica.
"Dantes, tínhamos um pequeno matadouro, como quase toda a gente, e tivemos que deixar de ter, devido às exigências da ASAE. Por isso, passámos a comprar o leitão em carcaça, mas a qualidade não era igual. Mal tivemos oportunidade, passámos a ter matadouro próprio de novo. Só assim conseguimos selecionar a qualidade e ter leitão sempre fresco", releva Carla, cujo matadouro que possui abate para o seu restaurante e também para revenda.
Depois dos difíceis tempos de pandemia, "O Castiço" voltou a trabalhar em força. Só que os hábitos dos clientes alteraram-se e, agora, há mais marcações. Por isso, o telefone de Carla não pára. Mas ela até prefere assim, porque "o serviço melhorou muito".
O que piorou foram os preços. "Comprávamos a 40 e tal euros a unidade. Desde o início da guerra, passámos a comprar a 80. Neste momento, estamos a vender o leitão já assado a 150 euros", adianta a empresária. Mas os clientes, esses, não têm faltado. E O Castiço, com os seus porquinhos em miniatura, coloridos e de vários feitios, expostos logo à entrada, continua a encher.