Família da mulher grávida com bebé morta que só conseguiu remover o feto ao final de quatro dias por falta de vagas no Hospital de Loures diz que criança nasceu com malformações. A Entidade Reguladora da Saúde (ERS) abriu um inquérito ao caso.
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Há uma semana, Tânia Dias, grávida de oito meses, soube que a bebé estava morta, mas só conseguiu remover o feto na passada sexta-feira. Segundo a família, e tal como o JN noticiou, o Hospital Beatriz Ângelo enviou a mulher para casa duas vezes por falta de quartos para induzirem o parto e retirarem a criança. O casal achava que o pior já tinha passado, mas, segundo Luís Pinto, pai da criança, a situação agravou-se quando a mulher viu a filha.
“Após o parto, percebeu que a bebé tinha malformações com a falta da parte superior do lábio e o nariz um bocado para dentro. Sempre nos disseram que era normal e perfeita, mas quando nasceu era tudo menos normal. Não nos disseram mais nada, nem um pedido de desculpas”, critica, acrescentando que desconfiam que a malformação poderá ter estado na origem da morte da bebé, mas só o saberão quando chegar o resultado da autópsia para apurar a causa da morte. Segundo o hospital terá dito à família, esta deveria ser feita "entre esta segunda e terça-feira".
“Ainda nem sabemos se já foi feita. Gostávamos de saber porque é que a nossa filha nasceu naquele estado e que libertem o corpo para conseguirmos dar o passo que falta para fecharmos esta página: fazermos o funeral”, desabafou Luís Pinto, que diz que a família pondera ainda apresentar queixa.
“Isto não pode ficar por aqui, desde o início que isto é tudo menos normal. Sentimos revolta e o meu pai quer apresentar queixa. Se o fizermos não é por valores monetários, é para se pôr um travão nisto. Só queremos saber porque fizeram a minha mulher sofrer quatro dias com a bebé na barriga e porque nunca nos disseram que o feto tinha problemas".
Luís Pinto acredita que a Entidade Reguladora da Saúde abriu um inquérito na sequência das malformações da criança. O JN questionou a ERS sobre os motivos da abertura do inquérito, mas esta entidade apenas confirmou que “na sequência das notícias publicadas, foi aberto um processo administrativo para a avaliação dos factos descritos”.
A mãe da bebé recebeu a notícia de que a bebé estava morta numa consulta de rotina há exatamente uma semana. A indução do parto para remover a criança ficou marcada para o dia seguinte, mas não se realizou por falta de vaga. Só quatro dias depois se concretizou, tendo a mulher tido alta no sábado.
Na altura, o Hospital Beatriz Ângelo confirmou ao JN que “a utente em causa foi avaliada em consulta eletiva de obstetrícia no dia 24 de outubro, tendo sido diagnosticada a presença de feto morto in útero” e que, nesse dia, “efetuou terapêutica farmacológica, que deve ser complementada com intervenção nas 48 horas seguintes”.
A unidade hospitalar referiu ainda que, “tal como previsto e agendado com a utente, a mesma compareceu esta quinta-feira no Hospital Beatriz Ângelo e os procedimentos clínicos indicados para esta situação estão a decorrer”.
O Hospital de Loures diz que "em relação ao solicitado, no que respeita ao caso em assunto, informamos que o Hospital Beatriz Ângelo se encontra em articulação com as entidades competentes". "O feto foi referenciado para autópsia médico-legal, consentida pela mãe, para estudo complementar. Aguarda-se neste momento resolução subsequente do Ministério Público", informa ainda.