Têm passado calor e apanhado chuva, de dia e de noite. Ainda assim, os trabalhadores da Sioux Portuguesa, empresa de Boim, Lousada, que fechou portas há duas semanas, não arredam pé das instalações da fábrica de calçado.
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Prometem ficar até que venha o administrador da insolvência, entretanto já declarada, e que lhes sejam entregues os papéis do desemprego. Não têm salários em atraso, mas querem salvaguardar o património da empresa e defender os seus direitos. Há pessoas que trabalham ali há mais de 30 anos. Dizem-se desgastadas com esta situação.
As últimas 15 noites de Paulo Santos foram passadas numa tenda improvisada com lonas em frente à empresa. Os cerca de 150 funcionários têm-se revezado por turnos para nunca deixar as instalações. "Passar as noites aqui é horrível. É muito frio, as horas custam a passar e é um stress não saber quando isto vai acabar", queixa-se o trabalhador que integra a empresa há 20 anos. "Montamos esta tenda por causa da chuva e à noite acendemos uma fogueira", explica. Mesmo depois de passar ali a noite, volta durante o dia para dar apoio às colegas.
"Já não posso ver isto"
Maria Moreira e Mónica Pinto começaram a trabalhar ali com 14 anos. É uma vida inteira, confessam. "Hoje (ontem), vieram aqui entregar as carrinhas de serviço e de transporte de pessoal da empresa. Disseram-nos que o administrador da insolvência vem amanhã (hoje). Esperamos que isto acabe esta semana", desabafa Maria Moreira. Funcionária há 28 anos, diz-se cansada, mas confiante de que com a venda do património da empresa, que têm tentado salvaguardar, lhes paguem os direitos. "Estou cansada e desgastada. Já não posso ver isto", conta, sentada à porta da empresa.
"Começamos a perceber que não havia trabalho e encomendas, mas nunca pensei que ia chegar a este ponto. Pensei que nos davam a carta de despedimento e os nossos direitos", lamenta Mónica Pinto. Para esta funcionária, têm sido noites sem dormir à espera de uma decisão. "Tenho dois filhos pequenos com doenças crónicas que precisam de mim", refere.
Os funcionários estão à porta há duas semanas. Na semana anterior, tinham sido dispensados por falta de encomendas e, depois de pagar salários e retirar os letreiros identificativos da marca do edifício, a empresa simplesmente não abriu. Com a intervenção da Autoridade para as Condições do Trabalho e de um sindicato os trabalhadores, conseguiram uma declaração que os autorizava a ficar em casa, "mantendo o vínculo laboral e a remuneração". Ainda assim, com medo de ficar sem os direitos, mantiveram-se em frente às instalações. O JN tentou obter declarações da Sioux Portuguesa, mas sem sucesso.