O despiste a grande velocidade de uma viatura desportiva de alta cilindrada, seguida de explosão e incêndio, no concelho de Ferreira do Alentejo, vitimou, sexta-feira à noite, três jovens: duas amigas de 17 e 18 anos e um rapaz de 28.
Corpo do artigo
O acidente ocorreu, anteontem à noite, cerca das 23. 45 horas, ao km 26,6 da Estrada Nacional 259 (EN259), na ligação entre Santa Margarida e Figueira de Cavaleiros. A viatura - um Nissan 350-Z, de 8 cilindros e características desportivas, com dois lugares - era conduzida por Adelino Espada, emigrante na Suiça, a gozar mini-férias de Natal, em Portugal.
Adelino Espada convidou as duas amigas para experimentarem o automóvel, antes de se juntarem aos amigos com quem haviam comemorado a passagem de ano na casa de Ana Franganito, que ontem completava 15 anos, e cuja festa de aniversário começava à meia-noite.
Junto ao pinheiro onde o carro ardeu - após sair da estrada e embater sucessivamente em três outras árvores - um jovem, que solicitou o anonimato, comentava que nos quatro anos em que foi bombeiro nunca havia assistido a "um acidente com esta brutalidade". "Vi o Adelino a arder. A cabeça de uma das raparigas estava a mais de cem metros", descreveu.
O mesmo testemunho refere que o condutor de uma viatura - ao que tudo indica um BMW, que presumivelmente terá alertado a GNR - comentou, no local, que havia sido ultrapassado por um carro "que mal viu passar". Escassos segundos depois viu a explosão. Destacou, por outro lado, que ele próprio circulava a grande velocidade (acima dos 170 quilómetros/hora), pelo que se presume que a viatura onde seguiam as vítimas seguiria a muito mais.
Ontem, nas ruas da pequena aldeia de Figueira de Cavaleiros, todas as conversas abordavam o brutal acidente. Entre os mais jovens, lágrimas nos olhos e um ambiente de comoção profunda generalizado.
Ana Amarante, tia de Adelino - que hoje regressaria à Suiça - procurava consolar a mãe de Cleide. "Três jovens na flor da idade. Não há explicações para esta tragédia", desabafava.
"Cleide e Sara eram as melhores amigas. Não se deixavam. Até na morte estiveram juntas", dizia, comovida um das jovens a quem as vítimas se deveriam ter juntado na festa de aniversário. Sara Olho Azul, a mais nova das raparigas, era estudante no 12º ano e tem um irmão com 10 anos. Cleide Mendes era filha única e no ano passado havia ganho o Prémio de Mérito, como a melhor aluna da Escola Secundária D.Manuel I, em Beja. Frequentava agora o 1º do Curso de Gestão na Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTIG).
Ana Catarina, vizinha de Cleide, procurava controlar o choro e as recordações da amiga: "Passámos o Natal na minha casa. Antes do acidente vieram à minha procura, mas eu tinha saído".
Recordando a noite fatal, conta que o grupo que já estava na festa estranhou a demora. "Ligámos para os telemóveis. Só o da Sara estava ligado, mas, não atendia. Depois de muitas tentativas, um GNR atendeu, disse que as coisas estavam complicadas e desligou. Pensámos o pior. Depois chegou a terrível notícia", conclui, entre soluços.
Apesar do acidente estar em investigação, tudo indica que o excesso de velocidade tenha sido a causa. Adelino levava o cinto de segurança e morreu carbonizado, já que ficou preso ao banco. Já Cleide e Sara - que se presume viajarem no colo uma da outra, uma vez que a viatura era apenas de dois lugares - foram projectadas a vários metros de distância.