A aeronave que caiu em Óbidos a 29 de Agosto, provocando a morte dos dois ocupantes, tinha alterações proibidas pelo fabricante e chegou a usar um garrafão de água para manter o equilíbrio em voo, refere o relatório preliminar.
Corpo do artigo
O avião ultraligeiro caiu pouco depois de descolar da pista de Lagoa de Óbidos, cerca das 19.20 horas, com o piloto e um passageiro, proprietário da aeronave, para efectuar um voo local de ensaio.
Dado o aproximar da noite, a equipa de investigação só avançou para o local do acidente na manhã do dia seguinte.
Segundo o relatório do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves (GPIAA), datado de 29 de Setembro e disponibilizado na Internet na sexta-feira, "a aeronave sofreu profundas intervenções, não certificadas, em áreas sensíveis".
O berço do motor foi "amputado", deu lugar a uma estrutura pesada "de concepção caseira" e os investigadores detectaram várias falhas graves na colocação do motor.
Segundo o relatório, as alterações terão sido feitas pelo proprietário e o importador do aparelho já o tinha alertado para as deficiências das adaptações, por estarem a alterar o equilíbrio em voo.
A equipa de investigação do acidente encontrou a bateria instalada num local proibido pelo fabricante, com o objectivo de reequilibrar a aeronave.
"A colocação da bateria na cauda destinou-se a substituir um contrapeso, um garrafão de água de cinco litros, para equilibrar a aeronave quando esta tinha tendência para mergulhar", escreve o relatório.
"Quando o motor foi realinhado e a aeronave passou a ter a tendência para voar de nariz-em-cima, reconheceu-se que a bateria deveria ser reposicionada no seu local habitual, mas a intenção foi adiada. Estas situações criaram alterações graves no centro de gravidade da aeronave", conclui o documento.
Ainda segundo o relatório do GPIAA, "uma possível falha do motor é hipótese rejeitada pelos indícios mecânicos".
O relatório destaca ainda que "um voo de ensaio nunca deverá ser feito com passageiros a bordo, sobretudo se a aeronave evidenciar um comportamento anormal como era o caso do avião sinistrado, com o centro de gravidade muito alterado".
De acordo com o GPIAA, a investigação ao acidente prossegue, aguardando-se o relatório da autópsia aos corpos, "para despiste de doença súbita de um dos ocupantes", assim como o relatório de peritos e do fabricante da hélice do ultraligeiro.