Apesar de não haver programa oficial, os moradores da Afurada vão assar sardinhas à porta de casa. Obras na igreja serão inauguradas.
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Na Afurada, em Gaia, a comunidade piscatória prepara-se para a festa de S. Pedro. Sem arraial, carrosséis nem fogo de artifício, mas já com os típicos fogareiros à porta. Por estes dias, a rua é uma extensão da casa. Os turistas são muitos, mas a população pede contenção e que as normas de segurança estabelecidas pela Direção-Geral da Saúde sejam cumpridas.
"É muito triste porque não há festa como esta com as ruas cheias de gente, os cantores no palco e a procissão. Mas tem de ser assim", diz Helena Soares, de 69 anos, vinda do mercado com uma saca de sardinhas na mão. "Como são pequenas, são para fritar", explica.
Mais à frente, o genro está no assador do restaurante que gere, o Abrigo dos Pescadores. Está a assar os pimentos para depois passar à sardinha. "As pessoas estavam ansiosas e a verdade é que nunca vendi tanta sardinha assada", explica Luís Pinto. Alguns enfeites e luzes nas ruas lembram as festas.
Na igreja, ultimam-se os trabalhos de restauro que custaram à Autarquia de Gaia 135 mil euros. Na Afurada, o ponto alto dos festejos ocorre sempre no fim de semana seguinte a 29 de junho, dia do padroeiro. Por isso, no próximo domingo, dia 4, serão inauguradas as obras e celebrada uma missa campal. No templo, inaugurado em 1955, apenas autarcas vão participar na celebração do bispo do Porto, D. Manuel Linda. A população assistirá na praceta em ecrãs gigantes. Não haverá a procissão com os cerca de 50 andores, mas a imagem de S. Pedro será levada até à entrada da barra por barcos de pescadores, recriando uma tradição antiga, mas "com restrições de acesso e limitação de lugares", como já fez questão de alertar o autarca Eduardo Vítor Rodrigues.
Menos sardinha
A devoção pelo patrono dos pescadores é exposta sem reservas por parte da população da Afurada e aumenta sempre que o ano de faina é mau. Em tempo de pandemia também se recorre mais ao divino. "O S. Pedro está zangado connosco, ao contrário do que aconteceu no S. João, não há sardinha", diz a peixeira São Maria Necas. Na Casa do Pescador, de Arminda Rola, foram servidos 150 quilos no S. João. "Mas em outros anos cheguei a assar 300 e às vezes até mais", conta a responsável pelo famoso restaurante, um dos primeiros da Afurada. "Naquele tempo, não havia alojamentos e cheguei a ceder a minha cama aos turistas e dormia no chão do restaurante com o meu marido", diz, olhando para Rufino, que confirma.
Tal como no ano passado, os festejos oficiais foram adiados e também não ocorrerão, na noite de sábado, os intensos 15 minutos de fogo de artifício. A Comissão de Festas diz que este adiamento "é um até já", prometendo "um reencontro feliz" para 2022.