
Praia de Moledo mais “curta” devido ao avanço do mar
Foto: Direitos Reservados
O areal da praia de Moledo (Caminha), engolido pelo mar nos últimos meses, será reposto de forma artificial caso seja necessário para a época balnear que começa a 15 de junho, e após o verão avançará uma operação de “resposta mais estruturada” à erosão, tendo como fonte de alimentação areia dragada na foz do rio Minho.
A intervenção da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) contemplará, também, a reparação e reposicionamento de geocilindros, enterrados há cerca de uma década para proteger a praia, e que ficaram danificados e deixados a descoberto recentemente pela força das ondas, no inverno.
“A APA já esteve no território a avaliar, vamos continuar a monitorizar e depois perceber, antes de começar a época balnear a 15 de junho, quais são as condições do areal. Podemos eventualmente equacionar fazer ali uma intervenção de emergência, colocar alguma areia”, explicou ao JN o presidente da APA, Pimenta Machado, referindo que, para já, “não faz sentido colocar areia na praia, porque o mar vai levá-la toda”. “O que faz sentido é esperar que o mar acalme e depois avaliar as condições”, sublinhou.
Pimenta Machado recorda que Moledo foi a primeira praia do país a receber geocilindros, que “tiveram um comportamento exemplar” e a salvaram da extinção. “Aquela intervenção tem 10 anos e correu muito bem. Foi a primeira que se fez em Portugal com sistema de geocilindros para evitar o que ninguém quer, que é ter ali uma muralha de pedra. Senão a praia já tinha desaparecido”, frisa.
As recentes investidas do mar escavaram a areia e deixaram à mostra os tubos de geotêxtil.
“O que vamos fazer é uma resposta mais estruturada depois da época balnear. Vamos reabilitar os geocilindros que estão mais afetados, houve um que rompeu, e vamos reposicionar toda aquela estrutura”, adiantou, acrescentando que essa operação será “complementada com uma alimentação de areia, cuja mancha de empréstimo é a foz do rio Minho”. “Toda a areia que está na foz do rio Minho é a que faz falta na praia de Moledo. E já que o rio não a transporta para ali, vamos nós fazê-lo com meios manuais. As equipas estão a trabalhar nisso.
O transporte talvez seja feito por camião, explicou, indicando que a intervenção implicará o desassoreamento da foz do Minho, que há muito é reivindicado pela comunidade piscatória de Caminha. “É uma intervenção que por um lado satisfaz os pescadores e ao mesmo tempo dá a areia que precisamos para as nossas praias”, defendeu.
Pimenta Machado considera que “desde a tempestade 'Hércules', de 2014, que afetou todo o litoral, este foi o ano mais difícil”. “Tivemos um conjunto de seis eventos extremos nestes quatro meses de 2025, que afetaram muito a costa portuguesa, não com a dimensão daquela tempestade de 2014, mas apesar de tudo com danos com algum relevo em Moledo, Costa Nova, Pedrinhas Cedovém, no Algarve, na praia do Forte Novo (Quarteira) e na Fuseta. Foi o ano dos danos mais difíceis, com várias tempestades seguidas”, enumerou, manifestando-se convicto que “o mar vai repor a areia” quando “o inverno marítimo passar”. “Vamos entrar no verão e tudo isto vai acalmar. E o que é suposto é a natureza - o mar ganha menos energia e as ondas menos altura-, repor a areia da praia”, concluiu.
Autarca preocupado
Preocupado com a situação, o autarca de Caminha, Rui Lages, confirma que foram realizadas “várias reuniões com a APA, no local inclusive”, e que a câmara está a fazer a “monitorização” da praia de Moledo e a “remeter informação todas as semanas”.
“Temos a garantia por parte da APA que será encontrada uma solução para termos uma época balnear estável, mas ainda não nos foi comunicada qualquer decisão”, afirmou, referindo que a situação do encurtamento do areal de Moledo, não é nova, mas aparenta ter-se agravado.
“Os geocilindros não raras vezes vão ficando à mostra, mas o mar tem vindo por ele próprio a tratar do assunto e a repor as areias. Os mais velhos dizem que a praia faz-se em maio, mas parece-nos que a erosão costeira está mais grave”, disse, acreditando que “a reposição a acontecer de forma natural não será suficiente para repor o areal na essência”.

