Os 155 novos guardas-florestais estão em funções desde 19 de abril, reforçando as equipas do Serviço de Proteção da Natureza da GNR.
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Com vários familiares na Guarda Nacional Republicana, Pedro Marques sempre disse à mãe o que pretendia fazer na vida: "Ir para o Exército ou ser polícia". No Exército já estava, quando decidiu agarrar o futuro e candidatar-se ao concurso para guarda-florestal. "Agora sou um polícia que fiscaliza a floresta, a caça e a pesca", afirma Pedro, sintetizando a missão.
Este jovem de 20 anos faz parte do grupo de 155 guardas-florestais que, em abril, passou a reforçar o Serviço de Proteção da Natureza da GNR.
Pedro ganhou o gosto pela floresta com o pai, que é madeireiro, e pela pesca com o tio, que acompanhava. Natural da aldeia de Ribeiradio, Oliveira de Frades (Viseu), o jovem foi colocado no concelho vizinho, em S. Pedro do Sul. Mas ainda que o território lhe seja familiar, assim que integrou a equipa do mestre António Campos (desde o estágio de um mês) percebeu que, afinal, o que sabia resumia-se a uma mão quase cheia de nada.
"Foi o mestre [António Campos] que me ensinou tudo em S. Pedro do Sul, com toda a calma e tranquilidade para que conseguisse entender", reconhece o guarda-florestal, que recebeu cinco meses de formação teórica na Escola da Guarda, em Queluz.
Com um mês de serviço já ganhou conhecimento para levantar um auto a quem infringe a lei. "Não foi atirado aos lobos. Temos de entender que estes jovens fizeram alguma formação, mas o terreno é outra coisa. Precisam de adquirir calma e estofo para lidarem com todas as situações", considera o mestre António Campos, que, em 2013, teve um papel fundamental na investigação dos trágicos incêndios do Caramulo.
Investigar crimes
Pedro quer aprender tudo e está ansioso por investigar incêndios florestais. "Quero aprender como se faz, como se olha para um terreno ardido, sem nada, e se consegue retirar a causa e chegar ao autor. Apanhar um incendiário é um feito para a sociedade."
Por enquanto, a missão é atuar mediante as denúncias sobre terrenos que ainda não estão limpos, verificar o cumprimento da lei no que toca às faixas de gestão de combustível, fazer o registo fotográfico.
"Por acaso, tem o contacto do proprietário deste terreno?", pergunta Pedro Marques a um habitante de Bodiosa, Viseu, cuja casa está perigosamente perto de pinheiros. Encontrar os donos das propriedades tornou-se numa tarefa mais difícil com a covid-19.
"Antes, com um bocadinho de conversa, as pessoas abriam-se connosco e forneciam-nos informação. Agora, aparecemos com máscara e viseira e ficam assustadas, receiam que lhe possamos transmitir o vírus", conta o guarda florestal, que quer exercer essa profissão para o resto da vida.
GNR soma 433 guardas florestais
Desde 2004 que que o país não formava guardas florestais que, segundo o Ministério da Administração Interna, têm "um papel determinante" no dispositivo de combate a incêndios. Com a entrada de 155 novos guardas-florestais, são agora 433 no total . "É sangue novo, uma mais valia porque estes novos elementos vão receber a experiência dos mais antigos", realça Adriano Resende, o tenente-coronel da GNR de Viseu, distrito que recebeu 12 novos guardas-florestais.
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Prazos
Devido à covid-19, o Governo alargou o prazo, até 31 de maio, para que os proprietários limpem os terrenos. Até 30 de junho, os municípios garantem a realização de todos os trabalhos de gestão de combustível, substituindo-se aos proprietários e outros produtores florestais em incumprimento.
Multas
Após o prazo para assegurarem a gestão de combustível florestal, os proprietários que não cumprirem ficam sujeitos a coimas que variam entre os 280 e 120 mil euros.