Três das mais famosas piscinas municipais de Lisboa estão encerradas há dois anos: Areeiro, Campo Grande e Olivais. No início do mês, a Câmara de Lisboa anunciou a sua vontade em entregar a privados a gestão dos três complexos aquáticos.
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O plano passa por abrir um concurso público internacional para a sua concessão, a uma única empresa, durante 40 anos. O concessionário terá que investir cerca de 30 milhões de euros na requalificação. Todavia, este plano pode ainda vir a ser chumbado pelos deputados do PSD na Assembleia Municipal, onde têm maioria.
Nos últimos 25 anos, as piscinas da região de Lisboa e Vale do Tejo sofreram uma evolução positiva a nível de oferta e condições de serviço. Há mais piscinas e a vigilancia sanitária tornou-se muito mais apertada.
"Ao longo dos anos a qualidade da água das piscinas tem evoluído positivamente", assegurou ao JN Carla Dias Ramos, do Serviço de Engenharia Sanitária do Departamento de Saúde Pública da Administração de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo. Segundo a responsável, durante a década de 80 "os principais problemas eram a turvação e a contaminação fecal", enquanto que actualmente as preocupações dizem mais respeito "à manutenção da concentração de residual livre de desinfectante".
A vigilância sanitária tem sido mais apertada. Recorrendo a dados de 2007, Carla Dias Ramos cita que foram feitas 3709 análises em 577 piscinas da região e "não foram detectadas anomalias graves". "No entanto", ressalva, "cada vez que é detectada alguma situação incorrecta do ponto de vista higio-sanitário, a Autoridade de Saúde intervém no sentido de promover a sua correcção".
Nas últimas décadas também tem aumentado o número de piscinas. Segundo palavras de Cabral Faria, do Instituto de Desporto de Portugal, no "IV Encontro Saúde em Piscinas", decorrido há poucos dias em Lisboa, existem cerca de 60 mil piscinas em todo o país, um número, contudo, bem distante do milhão de piscinas em França ou das 800 mil unidades em Espanha. No entanto, registe-se que por cá, em 1965, existiam apenas 36 piscinas públicas. Em 2005, a oferta de unidades públicas disparou para 680.
Em Lisboa há complexos aquáticos para vários gostos e bolas, entre piscinas municipais ou piscinas privadas de clubes (ver caixa ao lado).
Pedro Alves, um estudante de doutoramento em Química com 34 anos, disse ao JN que frequenta piscinas com alguma regularidade porque ao nadar "trabalham todos os músculos do nosso corpo de uma maneira equilibrada". Contudo, na sua óptica, não menos importante é "a sensação de liberdade e de leveza com que percorremos metros e metros de água". Para além disso, Pedro Alves para além disso citou o "sentido de abstracção". E explicou: "Quando entramos na água, esquecemos tudo à nossa volta, os problemas ou o stresse, talvez por estarmos noutro meio que não o nosso meio natural".
"Faz-me bem à cabeça", afirmou, por seu turno, Mafalda Nunes, que diariamente acorda às 7 da manhã para nadar uma hora na piscina do Clube Nacional de Natação (CNN). "É uma hora por dia em que não penso senão em atingir um objectivo de metros que tracei para aquele dia", explicou, assegurando que a média diária anda entre os 150 e os 200 metros.
Dário Dinis, um engenheiro electrotécnico de 32 anos, é um dos que outrora deu umas braçadas em piscinas municipais mas hoje mergulha com frequência nas águas de uma que está integrada num ginásio de uma cadeia de Health Club. Diz não ter sido uma troca, antes configura uma situação de "aproveitar o facto da piscina - muito limpinha como convém - estar integrada num ginásio que também utilizo". "O tipo de pessoal que lá vai é mais para o quarentão, classe média, bem vivido, é essa a espécie dominante ali", descreveu. Dário Dinis paga 78 euros por mês "com acesso a tudo". No entanto, ressalva que "não teria dificuldade em encontrar uma piscina pública que me servisse dentro de Lisboa".
"Nunca haverá piscinas a mais", apontou ainda Pedro Alves. Mafalda Nunes aproveitou o raciocínio e questionou: "Mas será que estão acessíveis a todos?".