Pode ser "perigoso", diz um vereador. "Nem à bomba rebenta", responde o dono.
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Uma represa de águas construída num terreno particular, em Buarcos, na Figueira da Foz, há quase uma década, está a gerar discórdia. Pode ser "perigosa", alerta o vereador Miguel Almeida. "Nem à bomba ela rebenta", diz o dono.
"A represa tem uma quantidade de água que impressiona. Imagine que rebenta. Já aconteceu noutros lados, com construções feitas de forma mais sólida do ponto de vista técnico". É Miguel Almeida, vereador da Oposição, quem o afirma, ao JN, perto do local onde se encontra o alvo da discussão. "O centro de saúde de Buarcos e estas casas correm perigo", conclui.
Estamos no sopé da Serra da Boa Viagem e os hectares em causa pertencem a Orico Santos, o homem que, no início deste ano, cortou o próprio dedo, com um cutelo, em frente a uma juíza, no Tribunal da Figueira da Foz, em sinal de protesto contra o processo de expropriação dessas mesmas terras. Aí deverá nascer o Parque Desportivo de Buarcos, projecto com cerca de oito anos, que está a dar algumas dores de cabeça ao actual Executivo camarário, socialista (ver caixa).
Mas voltemos à represa. É obra de Orico Santos, que trabalhou na construção civil, em França, durante 35 anos. Tem dez metros de profundidade e, quando cheia, pode concentrar à volta de 100 mil metros cúbicos de água. Tanto, que os bombeiros já ali abasteceram os helicópteros para combater fogos na Serra da Boa Viagem. O vereador social-democrata reconhece que o lago represado "é sempre um suporte em caso de incêndio", mas reitera: "Tem de ter segurança".
O que causa estranheza a Orico Santos, entretanto aposentado, é o facto de Miguel Almeida ter levantado a questão, na reunião camarária da semana passada, sendo que a represa existe há pelo menos oito anos. "Quando ele [Miguel Almeida] era o braço direito de Santana Lopes, já estava feita e nunca se preocupou!", atira.
Certo é que o vereador do PSD quer garantias de que a construção cumpre as normas ambientais e de segurança. "Dizem-me que até tem lá um barco! Não é, propriamente, um lago de patos", sustenta Miguel Almeida, para depois rematar: "Ficava descansado se fosse lá o Laboratório Nacional de Engenharia Civil ou uma estrutura similar [fazer a avaliação]".
Patos tem, barco também. E segurança, segundo o proprietário. "Isto nem com bombas rebenta!", vai repetindo Orico Santos, enquanto aponta, ao JN, os trabalhos feitos, precisamente, para evitar problemas. Maria de Lurdes Moura, utente do centro de saúde de Buarcos, "não tem medo nenhum" da represa de águas, cuja existência desconhecia. "Acho que, se houvesse perigo, já teríamos sido alertados".
O presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz, João Ataíde, também não se mostra preocupado: "Falei com técnicos da Câmara e disseram-me que era uma represa normal, nada de alarmante. Mas vou pedir ao responsável da Protecção Civil para averiguar essa situação", diz.