Polo da Universidade do Porto em Vila do Conde aumenta. Biopolis é o maior investimento na investigação realizado em Portugal. Em dez anos serão aplicados 130 milhões de euros.
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A centenária Quinta de Crasto em Vairão, Vila do Conde, está em obras. O projeto é do arquiteto Nuno Valentim, autor da renovação do Mercado do Bolhão, no Porto. A velhinha casa de lavoura do "Barão do Ave", há 15 anos abandonada, vai ser casa da ciência. O projeto é do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO) da Universidade do Porto (UP), em parceria com a Universidade de Montpellier (França) e a Porto Business School. Na reabilitação serão investidos sete milhões de euros. Em dez anos, serão 130 milhões, naquele que é "o maior financiamento alguma vez atribuído à ciência em Portugal".
"Até setembro de 2026, serão 30 milhões, entre fundos da União Europeia (15 milhões) e fundos estruturais do Estado", explicou Pedro Beja, o vice-presidente da recém-criada associação Biopolis, que integra os três parceiros iniciais, empresas, organismos do Estado e parceiros da sociedade civil.
O CIBIO nasceu, há duas décadas, atrás dos muros do Campus Agrário de Vairão da UP, pela mão do biólogo Nuno Ferrand. Hoje, trabalham ali 200 investigadores, distribuídos por 35 grupos, a que se juntam uma centena de estudantes de doutoramento. No mesmo edifício, as licenciaturas em Ciências Agrárias e Veterinária e o Green UP (Centro de Investigação em Produção Agroalimentar Sustentável), com mais 300 alunos. O espaço já é pequeno, mas Pedro Beja admite que poucos sabem o que acontece ali.
"Somos uma espécie de "aldeia gaulesa"", atira, sorrindo. Ali, vivem "Astérixes" da ciência, resistindo num país pouco habituado a valorizar o que tem. Só neste ano, provaram que o lobo-ibérico regressou à Extremadura, descobriram uma nova espécie de mocho em S. Tomé e Príncipe, desvendaram os mistérios da cor vermelha em aves e peixes e da "praga" de coelhos selvagens na Austrália. Estudaram a biodiversidade em Madagáscar e o uso de morcegos para controlo de pragas agrícolas nos Camarões. Tanto estão em África, como no deserto do Sara ou no Irão. E 50% são estrangeiros (italianos, ingleses e gregos à cabeça).
De casa a laboratório
Na antiga Quinta de Crasto ficará o primeiro laboratório nacional de DNA antigo, laboratórios, serviços administrativos e de apoio à atividade científica. "Serão envidraçados para que possam ser vistos de fora" e na antiga eira ficará "a Eira da Ciência, um espaço de convívio e troca de ideias", diz Paulo Célio Alves, investigador e professor da UP. Estará pronta em junho. No terreno anexo, vai situar-se o Arvoreto, "uma área visitável com ecossistemas portugueses".
Mas o CIBIO não quer ser um "sorvedouro de dinheiro" e por isso mesmo ali também há projetos a gerar receita. Exemplo disso são as robotlapas, nascidas de um projeto de investigação e que são exportadas para toda a costa Atlântica (dos EUA a África) para medição de temperaturas; a prestação de serviços à Arábia Saudita pela equipa de ecossistemas do deserto, cujos contratos já ultrapassam os 3,5 milhões de euros; ou o centro de testagem molecular, que permite, por exemplo, saber o sexo de um periquito ou identificar a linhagem de uma vaca.
A saber
Outras valências
A Biopolis tem ainda uma Estação Biológica em Mértola (e uma segunda a caminho em Arcos de Valdevez), "twin labs" em África, Angola, Moçambique, Zimbabué, Namíbia e África do Sul, com o objetivo de formar investigadores localmente, criar estações biológicas e apoiar o investimento.
Emprego qualificado
"Este será, com este investimento, um polo de desenvolvimento a todos os níveis. É criador de emprego qualificado, traz novos residentes e dará ainda mais visibilidade a Vila do Conde. E permite-nos cuidar do território em degradação", diz o presidente da Câmara, Vítor Costa.