A população do lugar de Queixomil, na União de freguesias de Santa Cruz do Douro e São Tomé de Covelas, em Baião, não tem água canalizada nem saneamento básico e bebe água de fontanários comunitários sem controlo sanitário.
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O poder autárquico, segundo a população, "para se desresponsabilizar" mandou colocar placas nos fontanários onde se lê "água não controlada".
"Isto é uma vergonha, não sabemos o que bebemos", exclama um grupo dos cerca de três dezenas de moradores, que não poupa o Executivo Municipal de Baião de quem se diz discriminado em relação a outros lugares da freguesia. "Em Gaia e Carrapatelo, há água e saneamento, e nós, aqui em Queixomil, continuamos a beber sabe Deus o quê", diz indignada Maria Glória Silvério, uma das moradoras da aldeia, que dista menos de hora e meia do Porto.
Carlos Vieira, prestador de serviço na Junta de Freguesia, foi quem afixou as placas informativas nos fontanários. "Coloquei mais de 50 por toda a freguesia", diz, fazendo notar que o problema não se resume a Queixomil. "Não quer dizer que a água esteja imprópria para consumo. A água até pode estar boa, mas, como não há análises, não sabemos", ressalva, colocando-se ao lado dos vizinhos, apesar de "beber água boa de furo próprio. As análises que mandei fazer assim o disseram", conta ao JN.
A preocupação dos habitantes de Queixomil reside na falta de saneamento e no uso de produtos químicos na produção agrícola que podem estar a inquinar as águas de nascente.
Água do banho na rua
No lugar há também quem assuma que despeja as águas do banho e da cozinha pela rua abaixo, "porque para a fossa séptica só há ligação da sanita", denunciam os moradores. O presidente da Câmara de Baião, Paulo Pereira, diz não ter dinheiro para resolver o problema do abastecimento de água e saneamento "de uma vez só" por todo o concelho. Mas promete, até ao final do atual Quadro Comunitário 2020, "chegar onde ainda não chegámos".
O autarca justifica a morosidade do fecho da rede com o território que é "muito extenso com 175 quilómetros quadrados, quase o dobro do concelho de Lisboa, com um povoamento muito disperso por 560 lugares, com uma baixa densidade populacional de 117 habitantes por km2 e uma orografia muito complexa, com altitudes de 50 a 1416 metros". Ainda assim, garante Paulo Pereira, "desde 2005, aumentámos a cobertura de água em cerca de 400% e em 500% o saneamento, num investimento de 21 milhões de euros".