Faz hoje 11 anos que a torre 5 do Aleixo foi implodida. Apesar da demolição completa do bairro ter ocorrido há três anos, a construção do projeto imobiliário de luxo só arrancará em 2024.
Corpo do artigo
Onze anos depois da implosão da torre 5 do Aleixo, o problema do tráfico e consumo de droga não desapareceu daquela zona da cidade do Porto e o local deixado vago com a demolição de todo o bairro está ainda por utilizar pelo fundo que tem para o local um projeto imobiliário de luxo. Os antigos moradores foram realojados e dispersos por outros bairros camarários. "O tempo passa, mas o trauma jamais desaparecerá", dizem.
Em janeiro deste ano, a Câmara do Porto anunciava que o "impasse" de dez anos estava "perto de ser ultrapassado" com a aprovação em reunião de Executivo da modificação ao contrato com o fundo Invesurb, o Fundo Especial de Investimento Imobiliário Fechado (conhecido como o Fundo do Aleixo). Com a alteração, o município abdicou, junto do fundo das obras de construção previstas para as Eirinhas e o Bairro do Leal, mediante uma retribuição financeira equivalente ao valor das obras para aí previstas, garantindo-se assim a construção do mesmo número de habitações sociais.
Contudo e de acordo com Manuel Monteiro de Andrade, administrador delegado da Fundbox, gestora de fundos de investimentos imobiliários, ainda "não há novidades nenhumas a comunicar", acrescentando o responsável que a concretização desse acordo "está em curso".
"Imensas saudades"
Para ter acesso aos lotes de terreno liberto com a demolição do bairro, o Fundo teria de já ter construído 154 fogos de habitação social, mas o certo é que apenas 52 casas foram entregues à Câmara do Porto. Faltam 102, cuja construção o fundo, ao abrigo do novo acordo, terá de pagar.
A autarquia explica que, quanto a esta retribuição financeira, "a assinatura do aditamento ao contrato, que esteve condicionada à concretização de um aumento de capital do Fundo, irá ocorrer em breve, prevendo-se que a primeira prestação seja entregue até ao final do primeiro semestre de 2023, a segunda até ao final de 2023 e a terceira no primeiro semestre de 2024". Só nessa altura os terrenos serão entregues ao Fundo.
A implosão da torre 5 ocorreu a 16 de dezembro de 2011, às 11.45 minutos, com o presidente da autarquia de então, Rui Rio, a assistir à operação a bordo de um barco no rio Douro. Helena Campos, a "Russa", protagonista da premiada curta-metragem do realizador João Salaviza, não quis ver.
"Nunca acreditei que ele (Rui Rio) iria fazer aquilo. Naquele dia saí do bairro e chorei", relembra Helena Campos, que residiu na torre 1 e que hoje mora no Bairro de Francos. As "imensas saudades" faz com que ainda hoje, três anos depois do bairro desaparecer por completo, grupos de moradores visitem o local "quase todos os dias".