Lisboetas queixam-se de "três rodelas de tomate a seis euros". Preço de sardinhas e de cerveja mantêm-se.
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Por Alfama, em Lisboa, já se sente a euforia do regresso dos Santos Populares, mas mais contenção nos gastos. Tudo aumentou, mas a maioria dos vendedores preferiu manter os preços da sardinha e da cerveja para não perderem clientes. Só o pão, as saladas e algumas bebidas estão mais caras por onde o JN passou. "Em 2019, um quilo de tomate custava 1,10 e agora custa dois euros, fomos obrigados a atualizar. Sentimos as pessoas mais contidas", diz António Carvalho, que também teve de subir o preço da sangria e do vinho.
Após dois anos sem festejos, Carlos Antunes e a família voltaram a um dos bairros mais castiços da capital e sentiram a diferença. "Está muito caro. Por oito sardinhas e uma bifana e salada pagamos 42 euros. Nem pedimos chouriço porque custa 12 euros. Sentimos que não é uma festa popular, pois não é acessível a todos", lamenta Carlos. A mulher, Fátima, ficou surpreendida com o preço da salada. "Pagamos seis euros por três rodelas de tomate. É extremamente dispendioso", critica.
Na mesa ao lado, Bianca Almeida também fazia contas. "Pagamos 60 euros por seis sardinhas, uma salsicha, uma coca-cola e quatro cervejas para quatro pessoas. Há três anos, paguei o mesmo e comemos muito, mas éramos oito pessoas", compara. O amigo, José Santiago, considera que "com a inflação, os portugueses começaram a recatar-se mais". "Só vemos estrangeiros", observa. Mas há quem não esteja tão preocupado. "Ainda nem vimos os preços. Tivemos dois anos sem vir. Agora é para compensar", diz Vânia Torteli.
Sem descontos
Paulo Costa, ali vendedor há vários anos, sente aumentos em todos os produtos, como o preço das bifanas que subiu dois euros e não só. "Ontem comprei batatas a 90 cêntimos, hoje estavam a 1,19 euros", exemplifica Paulo, que manteve o preço das sardinhas, que não sofreu grandes alterações, e das imperiais, a 1,50 euros. "Não podemos aumentar muito senão as pessoas não vêm". Já a salada subiu um euro e o pão 50 cêntimos.
Carlos Dias também manteve o valor da sardinha e da cerveja. "Assim vendemos mais, se aumentássemos o prejuízo seria maior", frisa, ao mesmo tempo que assa sardinhas, que custam em média 2,80 euros por quilo.
No balcão de Rúben Gonçalves, este ano não há descontos nas caipirinhas ou shots, ao contrário de 2019. "O preço das bebidas aumentou muito. Antes, um barril de cerveja era 53 euros e agora é 80 euros. As pessoas reclamam, mas não há margem para fazer descontos", explica.
Judite Paiva pagou copos de plástico pela primeira vez em 40 anos. "Dizem que o plástico encareceu. Nunca pensei pagar copos", diz a vendedora de ginjinha e outras bebidas, que só não aumentou a cerveja.
Nas farturas, acabaram as promoções de "leva seis pelo valor de cinco". "Era difícil manter", diz Filipe Barbosa, vendedor de farturas. Sofia São João, vendedora de manjericos e ginjinha, está com dificuldades. "Safamo-nos mais com a ginjinha".