Comerciantes não compreendem ciclovia numa das zonas de Matosinhos com mais trânsito. Temem uma diminuição dos lugares de estacionamento, o que afetaria o negócio.
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A alteração do perfil da Avenida D. Afonso Henriques, em Matosinhos, em particular a colocação de uma ciclovia, está a gerar críticas de comerciantes e da oposição na autarquia. Teme-se que a mobilidade seja prejudicada e que haja perda de clientela.
A obra só deverá arrancar no final do ano. Mas o facto de se prolongar por 18 meses e de prever a colocação de uma ciclovia numa das artérias mais movimentadas de Matosinhos já está a causar alguma apreensão, sobretudo entre os comerciantes, que temem a perda de lugares de estacionamento e consequente diminuição do negócio. O projeto merece reparos em bloco da oposição (ler notícia ao lado).
O projeto de reconversão da Avenida D. Afonso Henriques foi aprovado, em reunião da Câmara de Matosinhos, a 27 de dezembro do ano passado. Para que a intervenção de fundo, que prevê a substituição de todas as infraestruturas subterrâneas, conseguisse financiamento comunitário foi introduzida uma componente ambiental, assente sobretudo na criação de uma ciclovia.
“A proposta para aprovação do projeto, configura a solução necessária para atender à realização da candidatura 2030 a submeter até o final do presente ano, tendo como objeto, a requalificação e reperfilamento da Avenida D. Afonso Henriques, em Matosinhos, projeto que se encontra concluído”, justificou-se.
Substituição das árvores
A necessidade de se efetuar uma intervenção naquela que é uma das principais vias de acesso ao centro da cidade é consensual entre os comerciantes. “As árvores como estão já representam um perigo e aquele paralelo tem que ser todo substituído”, admite Ulisses Pinto, proprietário do pão quente “New Wave”.
O que causa apreensão é a colocação de uma ciclovia junto aos passeios, que serão alargados e onde atualmente existe estacionamento. Segundo o projeto, o estacionamento apenas será permitido na faixa central da avenida, prevendo-se a substituição das árvores. “Se isso implicar uma diminuição do número de lugares de estacionamento vai afetar o negócio. Só espero que a ciclovia não seja como a da Foz do Douro, que só dá problemas”, refere Ulisses Pinto.
Na altura da aprovação do projeto, a presidente da Câmara de Matosinhos, Luísa Salgueiro, considerou que a intervenção vai tornar a Avenida de D. Afonso Henriques “mais aprazível”, ao garantir “mais espaço para os peões”, através do alargamento dos passeios.
Dois perfis diferentes
Para Manuel Cardoso, proprietário do Café Júnior, o problema maior prende-se com as cargas e descargas. “Nesta altura, apenas o Pingo Doce está autorizado a fazer cargas e descargas. Era preciso mais zonas para isso”, defende o comerciante, embora admita que a ciclovia pode ser uma boa solução se também servir para os utilizadores de trotinetes.
A empreitada, que deverá arrancar no final do ano, já foi submetida a concurso público e deverá prolongar-se por 18 meses, ou seja, um ano e meio. Depois de concluída, a Avenida D. Afonso Henriques vai ter dois perfis diferentes, uma vez que a intervenção mais acentuada incidirá sobre o troço entre as ruas 1.° de Maio e Sousa Aroso. “Terá um desenvolvimento menos intrusivo entre a Rua Sousa Aroso e a Estrada Exterior da Circunvalação”, adiantou Luísa Salgueiro, na altura da aprovação do projeto.
O JN tentou saber mais pormenores sobre as alterações que serão feitas numa das ruas mais congestionadas de Matosinhos, mas não recebeu resposta da autarquia, em tempo útil.
Para comerciantes e utilizadores daquela avenida, a obra, orçada em mais de cinco milhões de euros, deveria era prever uma solução para o atravessamento do metro. “É o que provoca mais trânsito”, crê Ulisses Pinto, sugerindo a construção de um viaduto.