<p>Já ameaçou a professora com um tiro, apertou o pescoço a uma outra docente e esmurrou colegas. 'Daniel', nome fictício, tem 10 anos e está a prejudicar a aprendizagem da turma do 4º B da Escola Básica Nº 1 das Paivas, no Seixal.</p>
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A denúncia parte dos pais que desde meados de Janeiro têm observado comportamentos estranhos nos filhos. Uns não conseguem dormir, outros têm pesadelos ou choram sem motivo aparente e há até uma criança que já sofreu de enurese nocturna (perda involuntária de urina).
"Houve um dia que teve de ser chamada a polícia, porque disse que ia trazer facas para furar as crianças. A minha filha passou a noite a vomitar e a chorar, porque não queria vir para a escola, mas nem nos contou o que se tinha passado", relatou, ao JN, Sandra Coelho, uma das mães amedrontadas.
A ameaça mais recente de 'Daniel', suspenso até 20 de Maio, foi furar os ouvidos dos colegas com um clipe. "Há um medo geral. Queremos que o menino seja retirado de imediato da turma e que seja encaminhado para um serviço a que tem direito", indica Carla Machado, outra mãe.
As notas do 4º B, com 21 alunos, desceram drasticamente após 'Daniel' ter sido transferido de outra escola do Seixal por mudança de residência. "O meu filho era excelente e neste momento está no bom. Por este andar, no final do ano está no satisfaz", lamenta Isaurina Lima, progenitora.
"É uma situação gravíssima, limite e rara, que merece uma intervenção rápida", defende a psicóloga Amélia Amorim, que actua no 1º ciclo do ensino básico e que já trabalhou na resolução de um caso idêntico.
A psicóloga alerta que em primeiro lugar há que ajudar o 'Daniel' para que o seu comportamento violento não se agrave. "É uma criança que tem muitas dificuldades de controlo e que está certamente em grande sofrimento", realça.
"A escola não pode ter um miúdo que perturba toda a gente", exalta também Maria José Maya, formadora de professores para prevenção e gestão de conflitos. "É preciso perceber o que o faz ser tão violento. Chutá-lo de escola em escola não é solução e deixá-lo fazer tudo sem ser punido também não", avisa, frisando que o Ministério da Educação devia dar prioridade à mediação escolar.
Contactado pelo JN, o Conselho Executivo do Agrupamento de Escolas Paulo da Gama garantiu apenas que "o assunto está a ser tratado internamente".
A Comissão de Protecção de Crianças e Jovens do Seixal abriu um processo relativo ao 'Daniel' em 2005, mas, segundo a presidente Sandra Fontes, o caso foi remetido para o Tribunal do Seixal, porque os pais nunca compareceram para assinar o compromisso de protecção.
Aos pais, um procurador do Ministério Público assegurou que o processo está arquivado desde 2005 por falta de elementos que permitam avançar com medidas mais gravosas.
Remetendo mais esclarecimentos para ontem, que acabou por não dar, a Direcção Regional de Educação de Lisboa e Vale do Tejo afiançou aos pais que está a acompanhar o caso para que seja encontrada a solução mais adequada.