Projeto da Associação Nacional de Emergência Socorro e Catástrofe, que firmou parceria com a Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde, quer massificar o suporte básico de vida em todo o país.
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Ensinar gestos simples, mas que salvam vidas. É esse o grande objetivo do projeto "Somos Um" que arrancou, hoje, na Escola Secundária de Castelo de Paiva, com a primeira formação de suporte básico de vida, certificada pelo INEM, a 124 alunos do 11.º ano.
"Cada aluno formado e conhecedor dos procedimentos básicos de socorro pode contribuir para salvar uma vida", defende Filipe Serralva, diretor médico do projeto desenvolvido pela Associação Nacional de Emergência Socorro e Catástrofe (ANESC). "O suporte básico de vida é simples de fazer e essencial. Não pode haver suporte avançado de vida sem suporte básico de vida", acrescenta o médico de emergência médica.
A meta passa por "massificar" estas ações a nível nacional, tendo sido, para isso, assinado um protocolo com a Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde (SPLS).
"Este tipo de iniciativas devia ser mais frequente. Podemos salvar uma vida. Acho que estou capacitado para ajudar familiares e amigos", desde que consiga manter o sangue frio, garante Hélder Silva, de 16 anos, um dos jovens que participou na formação.
Durante todo o dia, os alunos aprenderam a sequência de procedimentos a efetuar, desde ver se há condições de segurança para ajudar a vítima, avaliar o estado de consciência, perceber se respira, ligar 112 e dar todas as indicações necessárias, até iniciar o suporte básico de vida enquanto não chegam os meios de socorro diferenciados.
"Esse papel é tão importante como o do médico ou enfermeiro que vão demorar 15 minutos ou mais a chegar", frisa Inês Vieira, uma das enfermeiras formadoras. Quem faz suporte básico de vida "também é herói", garante.
Literacia
Filipe Serralva acredita que é preciso fazer do "suporte básico de vida um ato de cidadania e de literacia em saúde", tornando a população "na base da pirâmide do socorro". "Podemos fazer chegar a melhor equipa de médicos e enfermeiros do mundo e com os melhores materiais, mas se alguém não tiver feito o suporte básico de vida e garantir a circulação sanguínea e a oxigenação dos tecidos não adianta nada", salienta.
Castelo de Paiva foi o primeiro concelho a abraçar o projeto, mas já há outros concelhos doa região do Tâmega e Sousa que o contratualizaram e outros municípios interessados, avança.
Pedro Luís, presidente da ANESC, frisa que o objetivo é "massificar, formar e capacitar a população em suporte básico de vida", criando um movimento nacional, "para que o país deixe de estar na cauda da Europa do que à formação e conhecimento de suporte básico de vida e literacia em saúde diz respeito".
"A literacia em saúde salva vidas" ao dar mais competências, e não apenas informação, às pessoas, argumentou Cristina Vaz de Almeida, presidente da SPLS. "Os jovens aprendem de forma mais fácil que um adulto e é por aí que devemos começar", mas, destacou, a responsabilidade é de cada cidadão e os adultos também precisam de ser sensibilizados para a literacia em saúde.
Até porque, referiu, "50% dos portugueses têm baixa literacia em saúde". "Há aqui algo que falha", sustentou durante a assinatura do protocolo. A Ordem dos Enfermeiros apoia o projeto. "O que está a acontecer hoje é uma coisa boa que se vai traduzir em vidas salvas e isso não tem preço", afirmou João Paulo Carvalho, presidente da Secção Regional Norte da Ordem.
"Capacitar os jovens para realizar estas manobras e ligar 112 é fazer a diferença entre a vida e a morte", garante, referindo que é preciso empoderar a população e que estes "gestos simples podem salvar vidas".
Quando conheceu o "Somos Um", o presidente da Câmara de Castelo de Paiva não hesitou em abraçar o projeto, que assume ainda mais relevância "num concelho com dificuldades no acesso à saúde". "Temos uma unidade de saúde a trabalhar em part-time. A partir das 20 horas já não temos atendimento aos munícipes e só abrem às 8h00. Há 12 horas durante o dia em que não temos atendimento permanente. Ao sábado só funciona das 13.00 horas às 20.00 horas. Temos alertado a tutela, até pela falta de ligações aos hospitais em Penafiel e Santa Maria da Feira", e porque há episódios mais ligeiros em que as pessoas podiam ser atendidas nestas unidades ao invés de "engrossarem" a lista de espera das urgências dos hospitais centrais, advogou.
A ANESC é uma associação sem fins lucrativos, que garante formação certificada pelo Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) ministrada por médicos e enfermeiros. O "Somos Um" é um programa que pretende a formação a grupos de alunos de forma continuada, repetindo-a anualmente, despertando as novas gerações para a importância destas formações.