Lucas estuda piano, e explica: "A música é um mundo completamente diferente. Quando se entra nele, é difícil de sair, e foi no Porto que descobri isso".
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Mais precisamente, no Conservatório de Música, onde quase metade dos cerca de mil alunos que o frequentam fazem grandes deslocações diárias para ali poderem estudar. Como ele, que é aluno do 12.º ano e todos os dias viaja entre Barcelos e o centro da Invicta por amor à música. "Compensa sempre", porque a escola é "muito boa", garante. Chegam a acordar ainda de madrugada e fazem dezenas de quilómetros, alguns percorrem meia centena, em viagens de mais de uma hora para estudar no Conservatório de Música do Porto, que tem 482 estudantes de concelhos limítrofes e de alguns mais longínquos. Como Penafiel, Amarante, Santa Maria da Feira ou Esposende.
"Três a quatro horas em viagem"
"Perde-se algum tempo, mas vale a pena", jura Lucas Lomba, que soma, por dia, "três a quatro horas em viagem" entre a freguesia de Abade de Neiva, em Barcelos, onde vive, e o Porto, local de eleição para prosseguir os estudos de piano no Secundário.
"Saio de casa lá para as 7.20 horas, e chego aqui às 9. É uma hora e meia, às vezes duas, se contar com o metro", contabiliza, despreocupado, explicando que a viagem implica três meios de transporte: carro, comboio e metro. "Cansa-me mais do que rouba tempo, porque, em relação ao tempo, perde-se uma horinha ou duas de noite e compensa-se", confessa.
Quando era mais novo, chegou a frequentar uma escola de música perto de casa, mas diz que estudar no Conservatório "é uma experiência completamente diferente em termos de ambiente, que é muito bom, e da forma como se vive a música". "Aqui, as pessoas querem seguir música, e interessam-se muito mais. E o próprio facto de estudar no Porto dá outro ritmo. Tocar na Casa da Música, por exemplo, é uma oportunidade que outras escolas não têm", observa o aluno de 18 anos, que "era para seguir Ciências", com o curso de Informática na mira.
Agora, "a música é a prioridade. Esta escola é tão boa, que uma pessoa acaba por querer seguir música", diz, a sorrir, depois de tocar piano na aula de orquestra. Tem uma média de 19 valores na disciplina de Instrumento.
Paços de Ferreira, Ana Dias
"Ouvia na televisão, e gostava muito"
Não foi o caso da aluna de flauta de Marco Pereira, que era ainda criança quando quis aprender a tocar. "Ouvia na televisão, e gostava muito do instrumento. Pedi aos meus pais para aprender", recorda a tímida Ana Catarina Dias, que ingressou aos sete anos numa academia em Paços de Ferreira, onde mora. Mudou-se no 5.º ºano para o Conservatório, e faz todos os dias 45 minutos de carro para cada lado, com a mãe.
O professor lembra que Ana Catarina e Andrej, que são colegas de turma, "têm acumulado prémios ao longo dos anos".
"No geral, são alunos com bons resultados", orgulha-se o diretor do Conservatório, António Moreira Jorge, que explica que os estudantes escolhem este estabelecimento "pelos professores, pelo projeto educativo e pelo prestígio, por ser uma escola de referência no ensino da música e que formou muitos nomes conhecidos, como Pedro Abrunhosa e Pedro Burmester".
Granja, Andrej Savic
"Preciso de muitas horas ao piano"
Mais novo três anos, anda no 9.º ano, Andrej Savic é outro apaixonado pelo piano, a que dedica quase todo o tempo livre. O jovem sérvio gostava, aliás, de dispor de mais horas diante das teclas, a exercitar-se mais e mais. Mas as cerca de duas horas diárias que perde na viagem de comboio entre a zona onde mora, na Granja, em Gaia, já perto de Espinho, e o Porto, roubam-lhe disponibilidade.
"O comboio tira-me muitas horas de tempo livre e de estudo, mas no Conservatório tenho melhores condições", assegura, por comparação com outras escolas mais próximas de casa.
"Acordo às 6.30 horas, e às 7.15 apanho o comboio da Granja até ao Porto. Depois, venho de metro", descreve o jovem, que chegou a Portugal há dois anos e meio e teve de vencer ainda a barreira linguística. "É outro país, outra vida e outras pessoas. Esforcei-me um pouco mais, aprendi a língua e integrei-me na comunidade".
A professora de piano, Dina Resende, recorda que, "no início, dava-lhe aulas em inglês". Mas, como "a linguagem musical é universal" e é a que o aluno domina melhor, acabou por ser "muito fácil".Andrej tem 15 anos e uma decisão tomada. Que ser solista de piano". Dedica-se, por isso, de corpo e alma ao instrumento. "Preciso de dar muitas horas ao piano", determina, lembrando que começou a tocar aos oito anos, de forma "natural", porque vem "de uma casa de músicos".
Tocar trombone, fazer desporto e aprender línguas
Com 17 anos e média de 18,5 valores, Gonçalo Nova não cede na exigência e aplica-se em todas as disciplinas. Não precisar de perder tempo em viagens para a escola - vive no Porto - permite-lhe dividir-se entre o estudo do trombone, que toca desde os seis anos, a prática de deporto e a aprendizagem de línguas. No passado fim de semana, conquistou um dos dois primeiros prémios arrecadados pelo Conservatório de Música do Porto no concurso CJ.COM, disputado entre conservatórios públicos. O outro prémio foi para Andrej Savic, na respetiva categoria.
Pormenores
Concerto - Na terça-feira, os alunos do Conservatório apresentam-se na Sala Suggia da Casa da Música, a partir das 21 horas, para o concerto de encerramento do ano letivo. Vão atuar as orquestras de cordas juvenil e sinfónica.
História - O Conservatório de Música do Porto nasceu em 1917, e esteve instalado no Carregal até 1975, altura em que passou a ocupar o palacete Pinto Leite, junto à Maternidade. Em 2008, mudou-se para a ala poente do edifício da Escola Rodrigues de Freitas.