Altice garante existir cobertura 4G, autarca diz que não é assim e há cerca de 100 estudantes sem acompanhar aulas.
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A falta de cobertura de rede móvel e banda larga em algumas freguesias do concelho de Porto de Mós, no distrito de Leiria, está a impedir o acesso normal às aulas a perto de uma centena de alunos do Ensino Secundário.
Os pais, moradores e autarcas da região já se queixaram às operadoras de telecomunicações, entidades governamentais e grupos parlamentares, mas até agora as únicas respostas que receberam foram a acusar a receção das reclamações.
Enquanto as queixas andam de gabinete em gabinete, os estudantes continuam a recorrer ao material impresso em papel fornecido pela Câmara Municipal de Porto de Mós, à Internet de vizinhos que investiram em amplificadores de rede e antenas direcionais, ou às instalações das juntas de freguesia, para poderem acompanhar as aulas à distância.
Para Tiago Rei, presidente da Junta de Freguesia de São Bento, o problema já não é só o da falta de investimento nas zonas geográficas de baixa densidade. É, sobretudo, uma questão de "injustiça" para com as crianças. "Há mais de 20 anos que andamos a lutar pelo reforço da rede. Agora, com esta questão da pandemia e o modelo de aulas à distância, os nossos jovens estão literalmente a ficar para trás. Sinto que estão a ser discriminados", lamenta o autarca, sem esconder o desconsolo por "não saber a que porta bater mais" para proporcionar os mesmos direitos e oportunidades às crianças da sua freguesia.
Mais injustiçados
A ausência de rede móvel e banda larga afeta ainda os estudantes das freguesias de Arrimal, Mendiga e Alqueidão da Serra. Em declarações ao JN, fonte oficial da Altice Portugal, a única operadora com fibra ótica na região, garantiu que a freguesia de São Bento "dispõe atualmente de uma cobertura de rede 4G muito próxima dos 100%, o que permite viabilizar o acompanhamento das aulas online por parte da comunidade escolar da região".
Mas Jorge Vala, presidente da Câmara Municipal de Porto de Mós, mostra-se "indignado" com estas afirmações. "É mentira", diz o autarca, adiantando que há "zonas-sombra" sem cobertura, e que já convidou o presidente da Autoridade das Comunicações (Anacom) a visitar o concelho e a verificar "in loco" que os valores anunciados pela operadora "não correspondem à realidade".
"Só gostava que as minhas filhas tivessem as mesmas oportunidades", desabava Carina Ferreira, mãe de duas meninas de 11 e 16 anos, que têm de deslocar-se todos os dias à Junta de Freguesia de São Bento e a casa de um vizinho, para seguirem as aulas.
O JN tentou obter uma reação do Ministério da Educação, sem sucesso.
Outros casos
Aulas no carro
Um professora da Maia dá aulas na mala do carro, por falta de rede em casa. Sílvia Miguel não quis deixar os alunos sem acompanhamento e improvisou uma sala de aulas na viatura, onde se desloca para uma zona com rede.
GNR leva trabalhos de casa
Durante o estado de emergência, a GNR de Seia andou a entregar os trabalhos de casa a alunos sem acesso a meios tecnológicos.
50 mil sem Internet
Os economistas Hugo Reis e Pedro Freitas estimam que só no Ensino Básico haverá cerca de 50 mil alunos sem acesso à Internet. Além da falta de acesso à rede digital, há ainda muitos estudantes sem computador em casa.