Moradores de Alvalade dizem que 200 mil pessoas são afetadas pelo barulho das aeronaves e por isso criaram plataforma a exigir soluções. ANA garante que está a implementar medidas.
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Os moradores de Alvalade, em Lisboa, queixam-se que o ruído dos aviões piorou e, juntamente com habitantes de outras freguesias, criaram a plataforma "Aeroporto fora, Lisboa melhora" para exigirem o fim dos voos noturnos. Dizem que o barulho das aeronaves, "cerca de 600 por dia, a passarem de dois em dois minutos, afeta mais de 200 mil lisboetas". A ANA Aeroportos de Portugal diz que já foi definido "o modelo de financiamento do Programa de Isolamento Acústico" que prevê a intervenção nos edifícios mais afetados pelos ruídos noturnos, "estando em curso a identificação de fontes de financiamento".
"Tortura do sono"
Em pleno centro de Alvalade, o som dos aviões interrompe constantemente as queixas de Catarina Gomes e confirmam o pesadelo que vive diariamente e piora à noite. "Ouve-se este ruído de 12 em 12 minutos, é a tortura do sono. Em Alvalade, já não se contam carneirinhos para adormecer, contam-se aviões. E não se adormece", diz a moradora, que vive nesta freguesia de Lisboa há nove anos. Só na madrugada de ontem, contou 39 aviões, entre as 23 e as 7 horas, no site da ANA Aeroportos de Portugal. Depois de ter filhos, a situação piorou. "O sono tornou-se mais leve e começou a afetar-me mais".
O mesmo aconteceu com Joana Domingues, que foi mãe há pouco tempo. "Antes punha dois tampões nos ouvidos e agora só ponho um porque tenho de estar mais atenta à bebé. Sempre que passa um avião ela acorda, e se ela não dorme eu também não", queixa-se. Joana já tem vidros duplos em casa e até chegou a mudar de quarto para suportar melhor o ruído, mas não resolveu o problema.
Niedja Melo chega mesmo a sair de casa a meio da noite e viaja até outras zonas da cidade para não ouvir. "Piorou no último ano, sinto que são aviões com motores mais barulhentos. Alguns passam com intervalo de um minuto. É a noite inteira, não pára", reclama a moradora na Alta de Lisboa.
Queixas como estas levaram moradores de Alvalade, Lumiar, Avenidas Novas e São Domingos de Benfica, freguesias afetadas pelo ruído, a criarem uma plataforma cívica. Em comunicado, exigem "o fim dos voos noturnos, o cumprimento da lei do ruído, a travagem da expansão da atividade aeroportuária e um plano de desativação definitiva do Aeroporto da Portela".
A ANA Aeroportos de Portugal diz ao JN que está a fazer o "levantamento do edificado e características do seu isolamento nas habitações consideradas com uso sensível, na área envolvente do aeroporto, para a primeira fase do Programa de Isolamento Acústico".
Adianta ainda que "foi aprovado pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA) o Plano de Ação de Redução de Ruído para 2018-2023, que contempla tipologias de intervenção direcionadas para gestão, controlo e redução de ruído". Entre estas, já foram implementados "sistemas tecnológicos, que permitem a redução do ruído emitido pelas aeronaves, enquanto estacionadas".
AÇÕES
Mais voos
O Governo autorizou mais voos durante a noite no aeroporto, entre 18 e 28 de novembro, para a implementação do novo sistema de gestão de tráfego aéreo da NAV Portugal.
34 medidas
A ANA diz que o Plano de Ações de Redução de Ruído para 2018-2023 tem estabelecidas 34 medidas, com 82% de nível de execução até agora. A restrição à realização de testes de motores no período noturno é uma delas.
Vários destinos
Há 53 anos que o Governo indica destinos para o novo aeroporto de Lisboa: Rio Frio, Ota, Alcochete e Montijo.