Ver vídeos de outras crianças no YouTube Kids, passear com a avó ou a bisavó, e brincar com os animais, são as principais brincadeiras de Valentim, um menino de três anos, que vive em Sistelo, Arcos de Valdevez. Não há outras crianças para brincar e só vai para a escolinha em setembro.
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Quando nasceu era o único bebé da aldeia, onde já não nascia uma criança desde 2015. Entretanto, há um ano, nasceu um irmão, Martim, com quem ainda pouco brinca.
Marco e Marlene Domingues, pais e proprietários do restaurante-café "Tasquinha da Ti'Mélia", contam que Valentim se distrai muito sozinho, no tablet ou no telemóvel. Gosta principalmente de ver outras crianças, com mais idade e que falam outras línguas, no YouTube Kids.
"Gosta de ver vídeos, não são de desenhos animados, são de crianças e, se possível, em inglês. Acho isso engraçado", comenta a mãe.
O pai explica: "O YouTube Kids tem várias fases, para crianças de várias idades, e ele só quer ver vídeos para meninos dos 9 aos 12 anos, que falam em várias línguas. Ele já diz muitas vezes 'ok' e 'nice'".
Para além de dizer palavras em inglês, o menino de três anos mexe na tecnologia como gente grande.
"Talvez por estar mais sozinho e mexer muito, já procura o que quer. Se estivesse no infantário ou na pré-escola, não podia ter com ele o tablet e o telemóvel. Assim, sozinho, pesquisa e já vê no telemóvel se alguém está a ligar e desliza o ecrã para desligar. Não quer conversas ao telefone", conta a mãe.
Marco admite que falta a companhia de outras crianças na vida do filho.
"Ao nível de desenvolvimento é diferente. O convívio entre crianças estimula mais. Há sempre aquela curiosidade de fazer asneira para saberem o que é. Assim, sozinho, liga-se ao telemóvel, porque é a única forma que tem para se entreter", afirma, referindo que, por outro lado, com o trabalho intenso do restaurante, a situação até acaba por ser vantajosa.
Às vezes, ao fim de semana, Valentim, recebe a visita dos primos Brian, Dylan e Kevin. "Fora isso, não há mais ninguém", conclui a mãe.