Só denúncia sobre cadáver em decomposição de um gato deixado na varanda levou a intervenção das autoridades.
Corpo do artigo
Lixo a cobrir todas as divisões, cozinha e casas de banho incluídas, fezes de animais pelo chão e tetos enegrecidos pelos dejetos de moscas. Foi isto que os militares da GNR encontraram, anteontem, numa casa da Quinta do Conde, em Sesimbra. Um cenário de horror que levou o Tribunal de Família e Menores a ordenar a retirada imediata de uma criança de quatro anos à mãe e avó com quem vivia e a ser entregue à Comissão de Proteção de Crianças e Jovens. Já as duas mulheres foram internadas compulsivamente.
13473940
As queixas e denúncias pela falta de condições em que o menor vivia já tinham pelo menos um ano, mas sem resultado. "A GNR vinha cá, mas elas não abriam a porta e sem ordem do tribunal nada podia fazer", conta ao JN Cátia Solange, que habita a vivenda geminada com a casa onde a família acumuladora de lixo vivia. Tudo mudou, porém, quando, na última semana, os vizinhos deram conta do cadáver de um gato em decomposição na varanda. Era o sinal da degradação total a que a situação tinha chegado. Com as duas mulheres viveria ainda outra criança, de dois anos, mas esta já estava ao cuidado do avô paterno quando as autoridades intervieram.
Discussões violentas
Cátia e Mário mudaram-se há um ano para a Quinta do Conde. Uma vivenda moderna num local muito tranquilo, de fácil acesso à praia, prometia ser um sonho, para o casal que vive com dois filhos de sete e nove anos. Mas rapidamente aconteceu o oposto. Primeiro, foram as discussões. "Eram muito violentas. As paredes da minha casa tremiam com os gritos e objetos arremessados", descreve Cátia. "Os palavrões que os meus filhos sabem aprenderam-nos aqui, a ouvi-las discutir", acrescenta. Depois foi a falta de higiene. "Os gatos lá dentro eram às dezenas e começámos a reparar nas moscas por causa do lixo. Não podíamos ter a janela aberta um minuto, que a nossa casa ficava tomada. Até dentro do meu frigorífico entravam", recorda a vizinha.
As imagens captadas pela Deathclean, a única empresa em Portugal habilitada a intervir em situações de risco biológico, são reveladoras. Pedro Badoni, o diretor, adianta ao JN que esta foi "a pior situação" com que a sua equipa se deparou em 13 anos de atividade no país. "Só a quantidade de fezes de animais era dantesca", diz.
Para Cátia Solange, a intervenção só pecou "por tardia". "Esta criança não podia continuar a viver nestas condições. O menino ouvia as discussões e já nem chorava. Isso diz tudo", conta.
Fonte da GNR adiantou ao JN que "estava em causa uma questão de saúde pública".