Anselmo Mendes, presidente da Associação de Produtores de Alvarinho defende Denominação de Origem para a sub-região Monção & Melgaço.
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Celebra-se esta terça-feira o Dia de Monção & Melgaço. Foi simbolicamente fixado aquando da publicação da Portaria n.º 152/2015, que consagrou o Acordo no Regulamento da Denominação de Origem Vinho Verde. Nesse ano foi decidido que a menção à casta Alvarinho poderia ser usada na rotulagem em toda a região dos vinhos verdes e não apenas naqueles dois concelhos. Em 2021, o acordo adquiriu plenos efeitos e a região pôde passar a usar a designação "Vinho Verde Alvarinho", enquanto os da sub-região de Monção & Melgaço passaram a ostentar um selo diferenciador
O acordo foi vantajoso para Monção & Melgaço?
Acho que foi um acordo bom para as partes. A sub-região Monção & Melgaço passou a ter um selo próprio que identifica o vinho destes dois concelhos, em vez de um selo comum do vinho verde. Arranjou-se uma verba de três milhões de euros para promoção até 2023 e que vai ser prolongada até 2026. Falou-se muito do Alvarinho e as vendas cresceram nacional e internacionalmente.
Há quem decida comprar devido a esse selo?
Sim, acrescenta valor. Só para se ter uma ideia, em alguns países no mundo onde há monopólios, casos da Noruega, Suécia e Finlândia, abrem-se concursos para vinhos, entre os quais para Alvarinho de Monção & Melgaço, o que é fantástico.
Isso valoriza o produto?
Valoriza mesmo muito. No meu caso, tenho na Suécia um vinho, o Alvarinho Contacto, que no segmento médio-alto está em segundo lugar a seguir a um vinho francês da Borgonha, o que é magnífico.
A sub-região de Monção & Melgaço tem outras ambições?
Será um ato de justiça ter uma Denominação de Origem (DO) por tudo o quem se feito ao longo dos anos. Consiste em ter no rótulo DO Monção & Melgaço em vez de Vinho Verde.
Vai ser necessário negociar essa atribuição?
Sim, isto passará por uma negociação, mas penso que será muito bom para a região ter uma DO Monção & Melgaço. O facto de existirem pequenas denominações de origem, como acontece em França, é positivo. E não são obrigatórias. Quem quiser poderá continuar a usar DO Vinho Verde. Só não pode é usar as duas.
O que ganharia a sub-região com a Denominação de Origem?
Lembro que, há 20 anos, o preço da garrafa de vinho verde Alvarinho mais cara não passava dos 10 ou 12 euros. Hoje, já há sete ou oito acima de 30 euros. Isto significa que houve uma grande evolução e valorização do produto. Também conseguimos demonstrar que os vinhos desta sub-região à base da casta Alvarinho envelhecem de uma forma deslumbrante. Isto dá sustentabilidade à região. São créditos a favor da diferenciação que a DO pode gerar.
Qual é o atual volume de negócios na sub-região Monção & Melgaço?
Ronda os 25 milhões de euros anuais, gerados por 1350 hectares de vinha que produzem cerca de 10 milhões de quilos de uvas. Só os vinhos produzidos a partir da casta Alvarinho rendem, aproximadamente, 15 milhões de euros.
A valorização da casta Alvarinho pode atrair jovens?
Há que valorizar a uva Alvarinho para fixar jovens à vinha. Mas ainda é preciso resolver o problema do minifúndio que prevalece nesta região. Mais de 50% do Alvarinho de Monção & Melgaço é produzido em vinhas com área abaixo de um hectare. Cerca de 80% dos proprietários tem mais de 65 anos.
Como se resolve esse problema?
É preciso fazer uma reestruturação fundiária para que a propriedade média seja de três hectares, o que já permite, por exemplo, fixar uma família.
Isso passa também por aumentar o preço da uva?
O preço da uva está a um euro por quilo. É a mais cara de Portugal continental, mas, na minha opinião, o preço tem de subir.
Como se consegue?
Terá de ser pela valorização dos vinhos produzidos. Se se venderem com maior valor acrescentado vai implicar pagar melhor a uva. Por outro lado, creio que há grandes empresas ligadas ao vinho interessadas em chegar à região e isso vai criar escassez, o que vai permitir subir o preço da uva.
Na hora de escolher um vinho verde, o consumidor já consegue distinguir o Alvarinho?
Ainda não é muito líquido. Um nicho de conhecedores, claramente. Também há algumas cartas de vinhos em que aparece a sub-região Monção & Melgaço. Tudo leva o seu tempo.
De que forma a guerra na Ucrânia afetará os produtores da sub-região?
Afeta, sobretudo, quem trabalha com uma margem de lucro muito pequena. Grande parte do vinho verde, que não o Alvarinho, é vendido a um preço muito barato e aí a conjuntura tem um efeito devastador, já que a margem de lucro é muito pequena. O preço das garrafas aumentou 40%, o cartão 60%, já para não falar das rolhas, energia e combustíveis. Só com maior valor acrescentado se consegue acomodar este efeito.
Um dos seus objetivos é criar uma biblioteca para mostrar de forma científica a razão da diferenciação da sub-região de Monção e Melgaço. Para quando?
Vamos pôr isso em marcha este ano. Com vários produtores, vamos escolher locais diferenciados e fazer em cada adega uma pequena quantidade de um determinado vinho bem identificado. Faremos uma coleção que depois será aberta à comunidade científica, jornalistas e todos os que estejam envolvidos no negócio do vinho.