Gigante têxtil do Vale do Ave aceita propostas até ao fim do mês. Houve máquinas vendidas antes da falência.
Corpo do artigo
As empresas do universo António de Almeida & Filhos (AAF) foram ontem colocadas à venda por um preço-base de três milhões de euros. Tal como o JN noticiou, a venda antecipada da gigante têxtil do Vale do Ave, sediada em Moreira de Cónegos, visa ganhar tempo para evitar o despedimento dos 220 trabalhadores.
A AAF foi declarada insolvente a 13 de julho. É a última fábrica do Grupo Moretextile, formado em 2011 para salvar a AAF, a Coelima e a JMA Felpos. De acordo com o anúncio de venda, assinado pelo administrador de insolvência Bruno Costa Pereira, está à venda o património da AAF, um imóvel da empresa Morecoger e seis prédios da Moretextile imobiliária. As propostas têm como valor-base os três milhões de euros e a que tiver o valor mais elevado será apresentada para votação na Assembleia de Credores, agendada para 7 de setembro, no Tribunal de Guimarães. No entanto, se a melhor proposta for inferior a três milhões de euros, também pode ser levada à assembleia para efeitos de aprovação, "desde que a mesma iguale ou supere metade daquele valor", lê-se no anúncio.
Manter empregos
Entre as condições para a compra está a obrigação de manutenção dos postos de trabalho com os direitos e antiguidades dos trabalhadores. As propostas em carta fechada serão abertas na presença de representantes dos trabalhadores e eventuais proponentes no dia 30 de agosto, às 10 horas. Dâmaso Lobo, dono da têxtil Mabera, que comprou a Coelima por 3,6 milhões de euros, manifestou interesse em comprar a AAF ainda antes da insolvência. O JN tentou, sem sucesso, contactar o empresário para saber se o interesse se mantém.
A 23 de junho, a menos de um mês de se apresentar à insolvência, a AAF vendeu 49 equipamentos de uma das tinturarias. O negócio ocorreu no âmbito da outra empresa do Grupo Moretextile, a JMA Felpos (ler ao lado). De acordo com a escritura a que o JN teve acesso, as 49 máquinas da AAF foram vendidas por 27 euros e 62 cêntimos. No entanto, a empresa compradora também ficou com uma dívida de 616 mil euros que a AAF tinha ao Novo Banco. Na prática, a venda das 49 máquinas fez-se por 616 027 euros e 62 cêntimos.
A empresa compradora destas máquinas é a FRT Têxteis, criada em fevereiro deste ano com um capital de 100 euros. O dono, Fernando Rui Teixeira, é também dono da têxtil Felpinter, que perdeu a corrida pela Coelima num processo em tudo semelhante ao que enfrenta agora a AAF.
Ao JN, fonte do Grupo Moretextile disse que os equipamentos da AAF vendidos antes da insolvência "eram máquinas que já não funcionavam há mais de dois anos". Francisco Vieira, do sindicato têxtil do Minho e Trás-os-Montes, confirmou que as máquinas "não têm utilidade para a atual laboração da AAF", pois são de tinturaria de algodão, pertencente à fiação vendida em 2019.
Escritura
JMA Felpos foi mais cara que a Coelima
O segredo é a alma do negócio e até hoje não se sabia por quanto é que a Felpinter (via FRT Têxteis) tinha comprado a José Machado de Almeida (JMA), a empresa "irmã" da AAF e Coelima. De acordo com a escritura a que o JN teve acesso, a Felpinter pagou 3,97 milhões de euros pela totalidade do património da JMA. O valor é ainda mais alto do que os 3,6 milhões que rendeu a venda da Coelima, a mais emblemática do grupo.
A escritura tem a data de 23 de junho deste ano. Para além de transferir a titularidade da empresa de Roriz, Santo Tirso, para a esfera da Felpinter, a escritura revela ainda a venda de três imóveis da Morecoger que serviam para produzir energia para JMA. Os imóveis, dois rústicos e um urbano, são todos de São Mamede de Negrelos (Santo Tirso), tinham o valor patrimonial de 182 mil euros e foram vendidos por 28 mil.
Por dentro
220 trabalhadores das três empresas
É o número de trabalhadores das empresas do universo AAF que estão à venda. O salário de julho está pago, o subsídio de férias foi pago ontem e o vencimento de agosto "já está garantido", confirmou o sindicato.
20%: percentagem de caução
Em simultâneo com a apresentação da proposta, o proponente deverá entregar caução à ordem das massas insolventes num valor correspondente a 20% do valor mínimo de venda dos estabelecimentos.