A tia Ricardina, de Pedorido, Castelo de Paiva, comemora esta segunda-feira 91 anos. Foi mineira, carregou cestos de carvão às costas, não se queixa de maleita nenhuma e continua a trabalhar a terra, fonte principal do seu sustento de vida.
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Não toma medicamentos e alimenta-se há muitos anos, apenas, de peixe.
Ricardina Faria vive sozinha numa pequena casa de Pedorido, em Castelo de Paiva. No subsolo da residência passa uma das galerias das antigas Minas de Pejão, que ela, melhor do que ninguém, conheceu a palmo. Foi esse o primeiro emprego da sua vida. "Comecei muito nova a trabalhar nas minas. A minha mãe tirou-me dali, eu tinha 17 anos", recorda. Nessa altura, ainda muito jovem carregava cestos de carvão à cabeça para os barcos ancorados no Douro. Como nunca frequentou a escola, trabalhou sempre nos campos e ainda hoje cultiva a terra. "Tenho amor à terra", assegura.
Viúva de José Correia há 33 anos, mãe de seis filhos e avó de 15 netos, a idade não impede a tia Ricardina de carregar baldes de estrume, serra acima para "fabricar" um pedaço de terra. "Sinto-me bem de saúde, não me dói nada e nem preciso de tomar comprimidos", afiança, embora não dispense a visita regular ao médico de família. "Há uns anos, tive uma pedrita nos rins e o médico queria que fosse operada, mas eu não quis. Passei a ter cuidado com a boca e nunca mais tive nada", explica.
O facto mais curioso é que a mulher só se alimenta de peixe. "Não como carne há muitos anos e só me alimento de peixe. Tem é de ser peixe cozido…é mais saudável", avisa. E então se for carapau cozido... "A refeição ideal é um peixinho cozido com um nabito, umas batatinhas e claro um copito de vinho maduro", afirma.
Hoje, dia de festa, Ricardina Faria não deverá entrar em extravagâncias até porque cumpre religiosamente a rotina diária: levanta-se às 6.30 horas para trabalhar a terra, almoça ao meio-dia em ponto, janta às 18 horas e deita-se por volta das dez da noite. Mesmo não sabendo ler, conhece os números das notas. Desafiada a revelar se domina bem a nova moeda, a idosa tem resposta na ponta da língua: "Nos trocos ninguém me engana".
