Monte Pedral, no Porto, acolhe uma série de iniciativas destinadas a todas as faixas etárias, ao longo de nove dias. É um convite feito à cidade para que conheça um espaço há muito desativado.
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Instalações, oficinas, pintura de mural, venda de brinquedos, visitas guiadas, música e retratos "à la minuta". Tudo isto vai acontecer no antigo quartel do Monte Pedral, no Porto, entre este sábado e o dia 23. É a primeira edição do projeto DESTRINCO, que visa chamar as pessoas a um espaço há muito desocupado e muito pouco conhecido, apesar de estar situado numa zona residencial.
A iniciativa resulta de uma parceria do atelier de arquitetura Oitoo com urbanistas e produtores culturais da cidade. O propósito percebe-se logo pelo nome que lhe foi dado: abrir o trinco de um portão que habitualmente está fechado. No caso, o portão virado para a Rua da Constituição, a partir do qual será possível percorrer uma alameda repleta de atividades, dirigidas a todas as faixas etárias aos fins de semana e destinadas às escolas vizinhas nos dias úteis.
Laura Lupini, do atelier Oitoo, compara o antigo quartel a "uma enorme ilha fechada dentro da cidade" e explica que o projeto DESTRINCO corresponde a uma vontade de "utilização do património à espera". À espera de uso, à espera de uma função, à espera de pessoas.
"Entre o abandono e a utilização final passa um tempo que normalmente é bastante longo", lembra a arquiteta italiana, acrescentando que a iniciativa se enquadra no conceito de "utilização intermédia" que já figurava na proposta apresentada pelo Oitoo em 2019, quando a Câmara lançou um concurso de ideias para o Monte Pedral. "Fala-se muito de sustentabilidade e, para nós, isto é sustentabilidade: utilizar o que já existe e fazer com que as coisas passem de mão em mão", diz ainda.
A entrada é gratuita e só será preciso fazer inscrição para as visitas guiadas, agendadas para os sábados e domingos, através do email destrinco.montepedral@gmail.com. Será possível ver a grandiosidade das antigas instalações militares, com passagem pela parada, as cavalariças ou o picadeiro, que é pontualmente usado pelas equipas cinotécnicas das polícias.
Quem percorrer a alameda, que fica mesmo por trás do edifício central, terá oportunidade de sair para a Rua de Egas Moniz, através de uma porta que foi rasgada de propósito para este projeto.
Com cerca de 22 500 metros quadrados, o vasto terreno ocupado pelo quartel pertence ao Município do Porto e foi cedido ao Estado em 1904. Devolvido à Câmara em 2019, alguns anos depois da desativação dos serviços (era o Centro de Seleção do Porto), o espaço já tem um destino traçado: vai albergar uma série de edifícios destinados a habitação acessível, residência de estudantes, escritórios e comércio.
À semana, as atividades para escolas decorrem das 10 às 13 horas. Aos sábados e domingos, o horário é das 11 às 19.
A organização poderá replicar o projeto noutros exemplos de património edificado que está abandonado, devoluto ou subaproveitado, como edifícios fabris, armazéns, complexos destinados à produção, centros comerciais em galeria sob edifícios residenciais ou até conventos.
"Quando nos referimos a património edificado, não nos referimos apenas a imóveis classificados, mas sim ao conjunto de edifícios que, enquanto sociedade, herdámos e que, apesar de funcionalmente terem ficado órfãos, são ainda suficientemente robustos e tolerantes para voltarem a ser outra coisa, que seja útil e significativa no presente", explica Laura Lupini.
Lembra que na cidade são muitos "os exemplos de abandono", mas logo conclui: "Felizmente há ideias e exemplos que demonstram que há uma enorme inteligência no ato de reusar, na capacidade de saber aproveitar estas construções que, quase sempre, por detrás da sujidade e do desgaste, estão cheias de qualidades e surpreendem pela beleza e generosidade".