
Hard Club abriu as portas no Mercado Ferreira Borges em setembro de 2010
Amin Chaar/Global Imagens
Entrada do Grupo Ferreira viabilizará projeto cultural, que deve a várias entidades mais de cinco milhões de euros.
Apesar do acumular de dívidas e da complicada situação financeira, o Hard Club vai continuar a funcionar no Mercado Ferreira Borges, no Porto. Até ao final do ano, o Grupo Ferreira vai liquidar a dívida de 5,348 milhões de euros e ficar com a maioria do capital. A Câmara do Porto, proprietária do edifício histórico e uma das entidades credoras, aguarda o desenrolar do processo e diz que, caso o Hard Club saia, não faltam interessados em ocupar o antigo mercado.
O baterista do grupo Xutos & Pontapés, Kalú, é sócio-gerente do espaço e mostra-se agastado com as notícias que estão a denegrir o projeto. "Se não fosse o meu nome associado ao Hard Club ninguém queria saber do assunto", diz revoltado, mas afirmando-se interessado em manter a serenidade em volta do centro de animação cultural.
Em causa está a situação financeira da empresa que já este ano aderiu ao Processo Especial de Revitalização (PER) com vista à regularização da dívida que ultrapassa os cinco milhões, quase na sua totalidade a entidades do Estado. A principal credora é a Caixa Geral de Depósitos (2,8 milhões), seguindo-se o Turismo de Portugal (1,56 milhões), a Câmara do Porto (59,6 mil euros), a Segurança Social (13,3 mil euros) e as Finanças (1600 euros).
Grupo Ferreira paga dívida
A solução encontrada para evitar a insolvência foi aceitar a oferta do grupo de construção civil Ferreira, responsável por várias obras de requalificação urbana na cidade, proposta "bem vista" por Kalú.
"O interesse deles é investir na área cultural e não é verdade que querem fazer do Hard Club uma churrasqueira, como afirmam por aí. Se a solução fosse essa e não um projeto cultural, eu saía porque não tenho jeito para cozinheiro", afirmou o músico ao JN.
"É uma forma de viabilizar o processo e pensamos que antes do final do ano o problema ficará resolvido até porque queremos que toda esta publicidade negativa sobre o Hard Club termine de forma a que o nosso projeto não saia descredibilizado", afirma Kalú.
gerentes em desacordo
A verdade é que a entrada do Grupo Ferreira não agrada a todos os sócios. Pedro Lopes, por exemplo, afirmou ao "Negócios" que não aceita a oferta da holding de construção civil, por ela poder vir a desvirtuar a sala de espetáculos. Para Kalú o importante é a saúde financeira do projeto e as dezenas de trabalhadores da sala do Hard Clube, que "continua a ter uma programação constante e fortíssima".
A culpa dos problemas financeiros é atribuída à "crise de 2015 e a uma altura em que o Porto não tinha o turismo que tem hoje".
A Câmara do Porto afirmou ao JN que mantém a "serenidade" e acredita que a concessão (longe do final) será cumprida pelo Hard Club.
Sala de espetáculos atravessou o rio de Gaia para o Porto
O Hard Club funcionou durante nove anos num antigo armazém na marginal de Gaia. Em janeiro de 2007, o emblemático espaço fechou portas - o edifício foi vendido para um empreendimento imobiliário - e o projeto acabou por atravessar o rio Douro, instalando-se no Porto. Em julho de 2008, a Câmara do Porto aprovou a concessão do Mercado Ferreira Borges ao Hard Club por 17 anos, mediante uma renda mensal de 2500 euros. A escritura seria assinada em abril de 2009, mas só em setembro de 2010 o espaço foi inaugurado.
1000 lugares
É a capacidade da sala principal do Hard Club. Há ainda uma sala secundária com capacidade para 350 pessoas. O espaço exterior às salas ("main floor") também por ser alugado. No piso superior funciona um restaurante.
Já em 2012 havia dificuldades
Já em 2012 as dificuldades financeiras do Hard Club foram noticiadas. Na altura, estava em causa a falta de pagamento de salários e rendas em atraso à Câmara do Porto.
