Por este dias, são muitos os voluntários a cuidar dos peregrinos. Não caminham, mas tornam a caminhada possível, tratando das dores do corpo e da mente.
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Nos últimos dias, milhares de peregrinos fizeram-se à estrada rumo a Fátima para as celebrações do 12 e 13 de maio, que começam hoje. No percurso e à chegada ao Santuário, contam com o auxílio de centenas de voluntários, que os ajudam a retemperar as forças com cuidados de enfermagem, fisioterapia e refeições. Há também quem cuide da logística necessária a caminhadas de grandes grupos de fiéis que chegam a durar uma semana.
Além de cuidarem das dores físicas, estes voluntários não esquecem o apoio emocional, seja através de conversas enquanto se faz um tratamento ou se serve uma refeição, seja através da escuta ou de um simples abraço. Mas estes voluntários habituados a dar tudo de si garantem que também recebem “e muito” com estas vivências de fé em Fátima. Luísa Archer, António Paulino e Rosa Silva são três desses voluntários.
Rosa Silva deixou tudo para auxiliar os devotos
Foi no início de 2020 que, “sem saber o que aí vinha”, Rosa Silva decidiu que era chegado o momento de se colocar ao serviço dos outros. Encerrou a pastelaria que tinha em Gafete, no distrito de Portalegre, e mudou-se com o marido para Fátima, um local que, diz, sempre a tocou muito. Chegaram no dia 11 de março e, cinco dias depois, o país fechou para o primeiro confinamento decretado devido à covid-19.
Mergulhada na incerteza, dirigiu-se à reitoria do Santuário e disponibilizou-se para “fazer o que fosse útil”. Assim que foi possível, ficou no acolhimento de peregrinos nas entradas das basílicas. Agora, encontra-se no apoio à exposição “Servir, a única pregação”, patente no piso inferior da Basílica da Santíssima Trindade, e às casas dos Pastorinhos, em Aljustrel. Em dias de grandes peregrinações, Rosa Silva, de 65 anos, ajuda no Centro de Acolhimento São Bento de Labre, onde o Santuário apoia os peregrinos a pé, assegurando-lhes dormida e uma refeição quente.
Colabora na preparação da comida e serve-a. É um momento em que, confidencia, muitos aproveitam para desabafar. “Também estamos aqui para escutar e dar-lhes o conforto possível, que pode ser um prato de sopa, uma conversa ou um simples abraço”.
Luísa Archer: “Saímos de coração cheio” por ajudar
Encontramos Luísa Archer, antiga enfermeira no Instituto Português de Oncologia do Porto, agora aposentada, no posto de atendimento da Ordem de Malta em Santa Catarina da Serra, instalado a menos de sete quilómetros do Santuário de Fátima.
Está a terminar mais um tratamento. Cuida dos pés, trata das bolhas e põe compressas para proteger as feridas, sem descurar a componente emocional. “A assistência vai além da parte física. É importante que haja tempo para ouvir e relaxar”, assinala Luísa Archer, de 67 anos, que teve o primeiro contacto com o trabalho da Ordem de Malta como peregrina, quando, há mais de duas décadas, fez um dos Caminhos de Santiago. Sentiu como que “um chamamento” para passar a fazer esse apoio e juntou-se ao grupo de voluntariado.
Já lá vão 22 anos, ao longo dos quais foi notando diferenças na peregrinação a pé a Fátima. “O peregrino aceita melhor as nossas recomendações e os grupos vêm mais bem preparados”, assegura a enfermeira reformada, destacando, ainda, a importância dos carros de apoio aos caminhantes, que se fazem acompanhar de profissionais de saúde.
Mesmo assim, ainda lhe chegam pés “muito maltratados”, sobretudo em dias de chuva ou nos casos de pessoas que “parecem querer fazer tudo de uma só vez”, aponta a enfermeira, confessando que, a cada peregrinação, fica “de coração cheio” por poder ajudar e ser útil. “Como diz um dos padres que nos dá assistência, é outra forma de peregrinar”.
António Paulino, ao volante, faz 170 quilómetros por dia
Antigo comandante dos Bombeiros de Penafiel, António Paulino, de 72 anos, fez a sua primeira, e última, peregrinação a pé a Fátima há 32 anos. Foi, assume, uma experiência difícil, que conseguiu levar a bom porto graças à equipa de apoio que acompanhava o grupo. Desde então, vai todos os anos, em maio, a conduzir uma das carrinhas de apoio da Associação Obra Bem Fazer de Nossa Senhora dos Remédios, de Paredes, que, este ano, leva quase 470 peregrinos a Fátima.
“Seremos um dos maiores grupos”, admite António Paulino, polícia reformado, que integra a equipa de 116 voluntários que ajuda estes caminhantes, cada um com a sua tarefa. A sua função é ir acompanhando os peregrinos ao longo da estrada, respondendo aos pedidos que vão surgindo. Face à dimensão do grupo, faz “uma média de 170 quilómetros” por dia. “Ando sempre à frente e atrás, do primeiro ao último do caminhante”, explica, sem esconder a satisfação por, “em tantos anos, nunca ter havido um acidente” com o grupo. “Nossa Senhora têm-nos protegido”.
Pormenores
Porto Alegre
A presidir à peregrinação estará o cardeal brasileiro Jaime Spengler, que é arcebispo metropolitano de Porto Alegre e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e do Conselho Episcopal Latino-Americano.
Procissão das velas
Um dos momentos altos da peregrinação é a procissão das velas que se se realiza esta noite, dia 12, pelas 22 horas. Amanhã, dia 13, a Eucaristia começa às 10 horas e inclui a procissão do adeus e a bênção dos doentes.
Acolher os doentes
Durante a missa do dia 13, realiza-se a habitual bênção dos doentes. O processo de inscrição e de avaliação é feito no Posto de Socorros do Santuário, sendo aceites até 200 pessoas.