Expansão do metro e TGV vai reforçar oferta de transporte público na região.
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A expansão da rede do metro, mais o comboio de alta velocidade (TGV) e duas novas pontes sobre o rio Douro, precisamente para estes dois meios de transporte, prometem marcar o quotidiano da Área Metropolitana do Porto nos próximos anos.
A empreitada é de monta. O metro tem seis linhas em funcionamento, duas em obra (Rosa e Rubi) e quatro em projeto: Gondomar, S. Mamede (Matosinhos), Trofa e Maia. Tudo para ficar pronto em 2030. Só para as ligações em projeto estão previstos mais de 1000 milhões de euros. "A expansão satisfaz. São boas opções. As pessoas de fora poderão deslocar-se ao Porto mais facilmente", antecipa Álvaro Costa, CEO da TRENMO, empresa especializada na área da mobilidade.
Noutros trilhos, os do TGV, promete-se ligar a Invicta à capital portuguesa em 1,15 horas e à Galiza (Espanha) em 50 minutos. A data apontada para a conclusão de ambos os percursos é 2032. Portanto, muitos investimentos à vista, sem esquecer a novidade do metrobus na cidade do Porto já este ano, mas que não apagam a dúvida sobre se o transporte particular, o mesmo é dizer automóvel, manterá a sua preponderância. Por isso, não espanta que os estudiosos do assunto ambicionem uma Área Metropolitana menos saturada de carros e a respirar melhor.
"A mobilidade em 2030 tem se ser cabalmente o segundo direito, a seguir ao primeiro direito da habitação. Sem ela, não há verdadeira liberdade. Espero que a cidade do Porto seja exemplo de uma mobilidade urbana sustentável, amiga do ambiente e verdadeiramente inclusiva", augura a especialista Paula Teles.
O desejo do geógrafo e professor universitário Rio Fernandes segue igual caminho. "O problema da circulação já não se resolve com estradas, ruas e semáforos. Obriga a gerir melhor o espaço disponível, dando prioridade aos veículos que transportam mais gente. O Porto do futuro será uma cidade com menos automóveis e mais veículos de transporte coletivo (subterrâneos e à superfície) confortáveis e pontuais. E pessoas a andar a pé e de bicicleta. De preferência, de acordo com um futuro pensado, e planeado para responder ao desejo de quem habita a grande cidade (Porto, Matosinhos, Maia, Gondomar e Gaia), onde se minimizam os movimentos e se promove a acessibilidade", diz, para o curto/médio prazo.
Turismo em excesso?
Se o TGV e o fortalecimento do aeroporto vão estreitar a relação com o Norte de Espanha e outros pontos do Mundo, a crescente atratividade do Porto e o turismo de massas também acarretam desafios.
"Há cada vez mais hotéis e restaurantes, além de outros estabelecimentos, mas é cada vez menos possível quem aí trabalha viver na sua proximidade. O mesmo se aplica a quem estuda. Todos os dias é um vai-e-vem intenso. A estes movimentos somam-se os de quem procura serviços diversos e os outros visitantes - milhões por ano - que de outras partes do país, da Galiza ou entrando pelo aeroporto, chegam como turistas. O Porto está a esgotar a capacidade de acolher mais gente", alerta Rio Fernandes, reforçando a importância da rede de transportes públicos.
Igualmente focada neste fenómeno, Paula Teles espera que "em 2030 o turismo já tenha migrado para outros locais da cidade do Porto, libertando o excesso na baixa". E defende uma "maior restrição automóvel na Baixa, na área Património da Humanidade e nalguns lugares âncora".
Para o triângulo Porto-Gaia-Gondomar, Álvaro Costa põe em cima da mesa a hipótese de se avançar com "o teleférico e as travessias fluviais" para ajudar a cidade a "respirar".
Aeroporto Francisco Sá Carneiro continuará a crescer
Entre os responsáveis nacionais, no que respeita ao potencial de crescimento do Aeroporto Francisco Sá Carneiro, a palavra de ordem é de otimismo. A evolução do número de passageiros suporta esta tendência. Novas rotas e a possibilidade de captar mercado à Galiza alicerçam a confiança.
Se, em 2014, a soma anual ficava abaixo dos sete milhões de passageiros, até 2019 cresceu sempre a dois dígitos e, em 2024, atingiu-se um recorde, com quase 16 milhões. Hoje, no Sá Carneiro estão 35 companhias, voando para 120 destinos.
Recentemente, o secretário de Estado das Infraestruturas, Hugo Espírito Santo, elevou ainda mais o patamar, apostando nos "40 a 45 milhões" de passageiros por ano. "Precisamos que seja o aeroporto de referência de todo o noroeste da Península Ibérica", justificou. Em curso estão obras de 50 milhões de euros para reforçar a capacidade do Sá Carneiro, mas que não incluem a sua ampliação, através da construção de uma segunda pista.
Para Álvaro Costa, CEO da TRENMO, o quadro é favorável: "O aeroporto tem que acompanhar a procura e ser pró-ativo. Terá que investir. Em Lisboa não há mais capacidade e na Galiza falta organização no transporte aéreo. O Porto deve aproveitar essas debilidades e agarrar a oportunidade".