Ganhou prémio em Londres, num concurso com 280 candidaturas de 20 países. Tem 300 colmeias em Castelo Branco, em propriedades florestais. Rosmaninho é o segredo do néctar.
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Filipa Almeida sentiu os sinais de crise, em 2019, com a chegada da pandemia. Arquiteta paisagista, viu os trabalhos na área a serem cada vez menos e pensou num plano B. Já havia aberto, havia oito anos, uma melaria em Sarzedas, em Castelo Branco, tinha terrenos da família e comprou outros em Vilares. Apostou no mel monofloral de rosmaninho. E foi com ele que ganhou a medalha de ouro no concurso "London honey awards 2021", atribuído por 12 juízes especialistas de 10 países, que teve 280 candidaturas de 20 países de todo o Mundo.
"Se estivéssemos na primavera, veriam esta vegetação cheia de cor e cheiro de rosmaninho", salientou Filipa Almeida, 42 anos, também apicultora , hoje a conciliar a arquitetura com a arte de fazer mel, numa visita guiada um dos 14 apiários com 300 colmeias instalados em terrenos florestais próprios. Por curiosidade, é alérgica às abelhas.
"Aquilo que sou como apicultora e arquiteta paisagista mistura-se e nessa junção resultam sempre espaços mais ricos e floridos para pessoas e abelhas. Eu sou a mão, o cérebro e o coração com que a natureza desenha e ganha prémios", indica. E quanto mais prémios ganhava (medalha de bronze, no X Concurso Nacional de Mel , em 2019, duas medalhas de prata no Internacional Taste Awards 2020, em Itália, medalha de prata no sétimo Concurso Nacional de Embalagens de Mel, entre outros) mais a arte aguçava o engenho.
Vegetação apropriada
"Qual é o segredo para conseguir o melhor mel do Mundo?", esta a pergunta que se impõe. "O processo de extração, o sistema na melaria não é diferente das restantes produções", explica Filipa. "É talvez o facto de ser arquiteta paisagista e, com isso, poder conceber a vegetação mais apropriada para as abelhas", frisa.
"O aproveitamento, a conservação e a valorização da flora apícola (gestão ativa da na paisagem), onde é colocado o apiário, o controlo dos ventos, o acompanhamento das colónias de forma ecologicamente sustentável, permitem a produção "do melhor mel do Mundo". E por causa disto, tive mais visibilidade e os trabalhos como arquiteta começaram a aparecer", diz.
Para Filipa Almeida trata-se da confirmação de que está a trabalhar no "sentido correto" para produzir "um mel de excelência", ao mesmo tempo que reflete a "profissionalização que o setor está a assumir". Mostra ainda que esta "é uma atividade que reflete a riqueza e identidade do território, capaz de contribuir para projetar a imagem do país lá fora".
Recuperar áreas
Após anos a trabalhar fora do país, Filipa Almeida empenhou-se em recuperar áreas degradadas pelo fogo em espaços de regeneração natural da vegetação autóctone, reconvertendo gradual e progressivamente extensos hectares abandonados.
Fá-lo através da aplicação de técnicas de recuperação paisagística e promoção da sucessão ecológica natural, em áreas de pasto natural para as abelhas e instalação de apiários integrados na paisagem.
"Dantes fazia a adaptação em jardins a trabalhar com plantas. Hoje, faço-o em campo, a trabalhar com as plantas e as abelhas, à escala da paisagem. Só mudei o espaço de atuação. O importante é dar o nosso melhor, tudo o resto vem por acréscimo", sustenta.
A saber
Prémio em Tenerife
O mel da empresa de Filipa Almeida, a Apijardins, já tinha sido considerado o melhor mel ibérico monofloral, em 2018, num concurso em Tenerife, e também já tinha conquistado uma medalha de ouro
Por semestres
Numa parte do ano, Filipa Almeida dedica-se ao mel e às 300 colmeias que já possui, no outro semestre centra maior atenção aos projetos de arquitetura paisagística, desde a fase inicial até ao acompanhamento da obra. É há oito anos produtora de mel, atividade que abraçou para evitar o desemprego e a consequente emigração.
Estreia de unidoses de mel é mais um êxito
No leque de produtos concebidos por Filipa Almeida está o pacote unidose de mel. "Os produtos alimentares unidose está já implementados em Espanha e vão chegar a Portugal. Todos os produtos estão escoados", diz, satisfeita pelo êxito. Existem ainda os bombons de chocolate e mel, o pólen e outras "ideias em testes". "O prémio [em Londres] é mais uma prova clara e inequívoca da qualidade do mel Apijardins e representa o reconhecimento mundial do mel português", frisa.