O projeto "Avenida da Ponte", desenhado por Siza Vieira em 1968 e adjudicado na Capital da Cultura de 2001, mas que ficou "na gaveta", seria "fundamental" e "oportuno" para o Porto, consideraram, esta terça-feira, os arquitetos Souto Moura e Alves Costa
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"[Seria] absolutamente fundamental por muitos motivos", defendeu o arquiteto e professor Alexandre Alves Costa, à margem de uma mesa redonda que assinala os 90 anos do nascimento do arquiteto portuense Fernando Távora, juntamente com também arquiteto e professor Eduardo Souto Moura, que considerou o mesmo projeto "muito oportuno para o Porto".
Conhecido por "Avenida da Ponte", o primeiro desenho data de 1968 e visava a urbanização da ligação entre o tabuleiro superior da ponte Luiz I e a Estação de São Bento, prevendo a construção de um edifício de habitação, áreas de serviços, uma praça interior e um auditório.
Anos mais tarde, e no âmbito do Capital da Cultura de 2001, Álvaro Siza Vieira refez o projeto, o qual chegou mesmo a ser adjudicado pelo então presidente da Câmara, Fernando Gomes, mas acabou por ser reprovado em maio de 2001 pelo novo autarca Nuno Cardoso e permanece "na gaveta" até aos dias de hoje.
O novo desenho de Siza Vieira englobava a criação de um Museu da Cidade, uma livraria municipal, um parque de estacionamento, algumas lojas e 48 habitações, o que era insuficiente para a autarquia de então que lá pretendia criar 100 a 150.
"Esse projeto deve-se na sua génese a um projeto do arquitecto Távora [a Torre, chamada de 'Casa dos 24'] que chama atenção para aquele tecido urbano, no sentido de dar escala à Sé do Porto, que está prejudicada por aquela abertura brutal que foi feita. O projeto do arquitecto Siza seria importantíssimo", defendeu hoje Alves Costa.
Uma opinião partilhada por Souto Moura: "Aquilo é uma espécie de porta da cidade e tem um ar abandonado (...). Felizmente temos a intervenção do Távora junto à Sé, que faz uma espécie de pontuação, uma espécie de ponto e virgula porque não acaba. Não percebo porque é que esse projeto [o de Siza Vieira] foi chumbado".
Já a 30 de abril, à margem da apresentação pela Adega Mayor, do Grupo Nabeiro, do Vinho Siza, o autor do "Avenida da Ponte" tinha admitido, à agência Lusa, que "faz falta" à cidade do Porto a concretização deste projeto.
"Faz falta, mas um dia há-de-se fazer (...), um dia que eu já não irei ver", disse, na altura, Siza Vieira, que hoje também era um dos oradores na mesa redonda que decorre no Museu Nacional Soares dos Reis.
Questionados sobre se os cortes orçamentais poderão gerar constrangimentos para o avanço deste projeto, tanto Alves Costa como Souto Moura manifestaram preocupação, mas defenderam que a autarquia e a cidade do Porto podem ter um "papel importante" na questão.
"A 'troika' saiu e está tudo otimista. Se calhar vai aparecer uma primavera financeira. Não é por este projeto que o Estado ou as câmaras vão à falência (...). Não sei se a câmara poderia investir, mas pode abrir o diálogo", disse Eduardo Souto Moura.
"Neste momento é difícil imaginar que o projeto se possa realizar com financiamento português, mas com imaginação, acredito que pudessem existir outras hipóteses. E a cidade devia envolver-se nisso. E acredito que é possível envolver a câmara atual", acrescentou Alexandre Alves Costa.