
Gravuras foram descobertas por grupo de estudantes. Atualmente, cerca de 80% dos trabalhos estão submersos
Câmara de Vila Velha de Ródão
O complexo de arte rupestre do vale do Tejo, considerado o maior núcleo do mundo ao ar livre, está a caminho de obter a classificação como Património Nacional, 50 anos depois do seu reconhecimento.
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O anúncio foi feito esta sexta-feira, em Vila Velha de Ródão, por Lígia Gambini, da nova Unidade de Cultura da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro, que substitui a Direção Regional de Cultura do Centro, entidade que emitiu um parecer favorável a este processo, que teve início em 2012, destacando que “o património cultural é um pilar do desenvolvimento”.
A avaliação está agora sob alçada do Património Cultural, o Instituto Público que substitui a Direção Geral do Património Cultural, que deverá submeter à ministra da tutela, Dalila Rodrigues, a apreciação final.
Esta responsável falava na abertura do Seminário CIART – Vale do Tejo e a Arte Rupestre 50 anos depois, que decorre até domingo e que reúne vários especialistas nacionais e internacionais da arqueologia. O evento é organizado pelo Município de Vila Velha de Ródão e pela Associação de Estudos do Alto Tejo.
Apesar da importância hoje reconhecida deste achado, a sua descoberta foi feita um pouco por sorte, por um grupo de estudantes de arqueologia que em 1971 começou a ir até aquelas paragens, em período de férias letivas, para estudar os terraços do Tejo. E nesse âmbito, foram verificar o que eram “os desenhos e escritos nas pedras” que alguns pescadores falavam e se estendiam ao longo de 40 quilómetros, abarcando sobretudo o concelho de Vila Velha de Ródão, mas também Nisa e Mação. “Quis o destino que no ano em que se comemoram os 50 anos da democracia, se assinalem os 50 anos do reconhecimento do complexo de figuras de arte rupestre do Tejo”, destaca o presidente da Câmara, Luís Pereira, recordando que foi graças ao interesse e persistência deste grupo de estudantes, que ficou conhecido como a “Geração do Tejo”, que este património foi dado a conhecer e foi reconhecido, antes que as águas da barragem do Fratel o engolisse. “O enclausuramento destas gravuras rupestres amputou a Vila Velha de Ródão o seu mais rico e representativo património”, mas “graças a estes estudantes, evitaram que fosse esquecido”.
80% das gravuras estão submersas
A construção da barragem iniciou-se em 1973 e “contestar a barragem era como contestar o próprio regime”, recordou o arqueólogo Francisco Henriques. Em dois anos, este grupo, usando técnicas inéditas para a altura (a fotografia, a luz artificial e a moldagem em latéx) conseguiu fazer dois mil moldes, que permitem reproduzir réplicas das gravuras submersas.
Hoje, “80% destas gravuras estão submersas, mas foram replicadas pelos estudantes de arqueologia. Os restantes 20% não estão em locais que sejam de fácil acesso, por isso ainda não são visitáveis e não sabemos se será possível criar condições para tal”, avança Luís Pereira.
Quando o Centro de Interpretação da Arte Rupestre do Tejo (CIART) abrir portas, depois de obras de requalificação, “estarão disponíveis para o público as réplicas das gravuras submersas e novos conteúdos relacionados com este complexo, o que tornará este num espaço de referência regional, mas também nacional e internacional”.
Ao longo de 40 quilómetros estão identificados 10 núcleos de arte rupestre, que foram este complexo que se distribuiu pelas duas margens do Tejo e ainda toca o Ocreza.
